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Literatura

Ebook vira ‘porto seguro’ para autoras da região publicarem livros

Escritoras enxergam as plataformas digitais como um espaço democrático para fugir do “mais do mesmo” das grandes editoras

Por Marina Zanaki

08 de março de 2020, às 08h22 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h10

A cena é comum: uma mulher absorta na leitura de um livro escrito por um homem. Assim como é verdade que as mulheres leem mais, também é real que os homens publicam mais livros. Contudo, a possibilidade de publicações por meios digitais podem modificar esse cenário patriarcal.

Pesquisa realizada pelo Universidade de Brasília analisou 258 livros publicados entre 1990 e 2004. A pesquisadora Regina Dalcastagnè, que coordenou o levantamento, chegou ao percentual de que 93% das obras haviam sido escritas por autores homens.

Por outro lado, o público leitor é composto principalmente por mulheres. Em Americana, 70% dos frequentadores da Biblioteca Municipal são do sexo feminino.

Foto: Krisna Alencar / Divulgação
Escritora de Sumaré, Cleia Lira recebeu proposta de editora do Paraná

“A gente vê acontecer uma transição, as garotas pegarem livro na sala infantojuvenil, e com o passar dos anos elas passam a descer na sala de literatura adulta e continuam lendo”, revela o orientador cultural da Biblioteca de Americana, Leonardo Luciano.

Ele observa também um crescimento dos livros publicados por mulheres nos últimos anos, principalmente romances, impulsionado por fenômenos como a série Crepúsculo e a trilogia 50 Tons de Cinza. As séries Harry Potter e Jogos Vorazes também estimularam o surgimento de novas autoras.

Em relação a publicações independentes, Leonardo explicou que os livros físicos ainda têm predominância masculina. Já em relação às plataformas digitais, é notável o crescimento da presença feminina.

“É todo um universo que até se retroalimenta. As garotas escrevem, publicam, têm canal no YouTube, fazem resenhas de livros. Esse é um universo que vem crescendo muito”, analisa.

Para entender o fenômeno, o LIBERAL conversou com autoras da região que publicaram de forma independente seus livros por meio de plataformas digitais.

A tendência de mulheres lendo prioritariamente livros escritos por homens foi delineada no começo do século passado pela escritora inglesa Virginia Woolf em seu ensaio “Um Teto Todo Seu”.

A escritora inglesa especula sobre a existência de uma irmã de Shakespeare que teve o mesmo talento literário, mas que morreu antes de encontrar oportunidade de desenvolvê-lo.

Woolf defende que ela poderia ter sido ridicularizada pela ideia de querer ser escritora, além de não contar com recursos materiais que assegurassem que ela pudesse se dedicar à literatura.

Mesmo tendo escrito há 100 anos, o ensaio encontra ecos na atualidade. Pelo menos é o que a explosão de escritoras mulheres nas plataformas digitais parece indicar.

Autoras ouvidas pela reportagem destacam que a publicação online é mais barata do que um livro físico e que possui menos “peso” do que um livro impresso, possibilitando que mulheres comecem de maneira despretensiosa.

Professora e escritora de Sumaré, Cleia Lira achava a literatura algo distante. Ela começou a escrever como um hobbie na plataforma Wattpad, que disponibiliza gratuitamente publicação e leitura de textos para escritores amadores.

Seu primeiro livro – “Sob sua Proteção” – alcançou sucesso entre os leitores e ela chegou a receber um convite de uma editora de Curitiba para publicá-lo.

“Acho que é importante as mulheres publicarem. Acredito que com essas plataformas, como Wattpad e Amazon, ficou bem democrático. Hoje em dia as editoras não publicam livros facilmente, é muito difícil, publicam pessoas que já têm um nome, um público”, avalia a escritora.

A escritora Waal Pomps, de Americana, publicou seu primeiro livro por meio do Clube dos Autores. A plataforma possibilita, de forma intuitiva, executar partes técnicas da montagem do livro, como capa, contracapa, orelhas. Ela acredita que o peso entre um homem publicar um livro e uma mulher é diferente.

“Várias vezes ouvi comentários que eu precisaria encontrar um homem rico para me sustentar enquanto eu escrevia meus livros. Mas já ouvi de escritores elogios de como suas esposas são parceiras e ralam com eles na jornada de ser escritor”, conta.

Por conta desse tipo de comentário, Waal afirma que as publicações digitais facilitam o acesso das mulheres à divulgação de suas obras.

“Conforme eu ia crescendo, tinha poucas autoras que escreviam romances e eram reconhecidas. Hoje esse número cresce e na minha opinião a publicação online tem total influência nisso. As mulheres se sentem mais seguras para arriscar. Se não der certo, tudo bem”.

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