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Literatura

Autores têm na música uma fonte para sua escrita

Por Agência Estado

15 de julho de 2019, às 09h40 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h11

A argentina Mariana Enriquez e o brasileiro Braulio Tavares têm a literatura de horror e de ficção científica em comum. No encontro que protagonizaram na manhã de domingo, encerrando a 17.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), eles descobriram mais pontos em comum. A importância da música, por exemplo. “Ela é mais vital para mim que a literatura”, brincou Mariana. “Acho que escrevo porque não consegui ser uma estrela do rock.”

Mais séria, ela contou como ficou interessada pela reação de fãs nos grandes shows que cobriu como jornalista especializada. “Foi durante uma apresentação do Back Street Boys, um horror, mas percebi que as fãs não paravam de gritar um segundo sequer. Parecia que independia de quem estava no palco, elas precisavam gritar muito. Percebi que ali cada uma delas vivia um rito de passagem, algo que as libertava.”

A experiência foi decisiva para a escrita de seu romance Este é o Mar (Intrínseca), cuja trama acontece nos bastidores do mundo do rock. Já para Bráulio Tavares, que lançou recentemente Fanfic (Patuá), vê a música como importante auxiliar em sua criação literária. “Ela me ajuda a encontrar o melhor ritmo e a sonoridade ideal das frases”, observa ele, também compositor. “Meu ouvido musical me auxilia principalmente na escolha das palavras com determinada vogais. A cadência é essencial: é como se cada frase de um texto de ficção se assemelhasse a um verso.”

Tavares acredita que grandes compositores como Gilberto Gil, Chico Buarque, Tom Waits, Bob Dylan têm um extraordinário poder de síntese graças ao domínio da criação musical. “Eles conseguem contar uma história em um canção de dois minutos, algo que, se fosse narrado em um livro, ocuparia 100 páginas.”

O encontro serviu também para Mariana e Tavares mostrarem opiniões semelhantes em relação ao contraponto entre realidade e ficção. “Não se trata de oposição”, observa o autor brasileiro. “A literatura fantástica inclui a realidade e a expande. Ou seja, propõe um passo além do que é considerado real. Finalmente: é o mundo que nos rodeia, mas com algo a mais.”

Algo distinto, porém, do insólito. “Aqui, temos uma situação que pode acontecer, mas que é muito improvável.” Tavares exemplificou com duas obras de Kafka. “Enquanto A Metamorfose é considerado fantástico, pois um homem se transforma em um inseto, em O Processo temos algo insólito: nenhuma lei da realidade é violada, embora a situação seja muito difícil de acontecer.”

Já Mariana Enriquez lembrou de sua predileção por tratar de assuntos políticos e sociais, mas não pelo olhar realista. “A maneira mais interessante de se retratar a realidade é ampliá-la, pois facilita a observação de diferentes pontos de vista”, comenta.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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