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História da arte barbarense

Palco das artes de Santa Bárbara, Teatro Manoel Lyra completa 25 anos

Teatro completa 25 anos nesta sexta-feira e olocal leva o nome de um ferreiro que dedicou 52 anos à representação teatral em Santa Bárbara

Por Isabella Holouka

25 de junho de 2020, às 09h56 • Última atualização em 25 de junho de 2020, às 10h01

O Teatro Municipal Manoel Lyra tem hoje 597 poltronas, sendo 580 assentos simples, 6 para obesos e 11 lugares para cadeirantes. – Foto: Prefeitura de Santa Bárbara / Divulgação

Nomeado em homenagem ao barbarense que foi pioneiro nas artes dramáticas no interior paulista, o Teatro Municipal Manoel Lyra, inaugurado em 26 de junho de 1995, é berço de inúmeros artistas regionais e símbolo de diferentes manifestações artísticas.

Manoel Lyra, o Nenê Lyra, ferreiro de profissão, nasceu em 1904 e trabalhou nas Indústrias Sans como furador de peças agrícolas, além de ter sido operador de filmes no Cine Santa Rosa.

O artista dedicou 52 anos à representação teatral, organização e difusão do teatro amador; fundou grêmios teatrais que se apresentaram em diversas cidades da região, conquistando prêmios. Faleceu em 18 de janeiro de 1973, aos 68 anos.

Manoel Lyra fundou grêmios teatrais, conquistando prêmios – Foto: Divulgação

“Ouvi sempre o meu pai contando o porquê desse nome e como Manoel Lyra era um grande inventor de modas da época. Juntava os artistas que cantavam, que declamavam, que atuavam e fazia a arte acontecer em uma Santa Bárbara tão pequenininha e numa época em que as coisas eram bem mais difíceis do que agora”, lembra Fernanda Araújo, professora de dança e filha do ex-prefeito José Maria Araújo Júnior, que inaugurou o teatro em seu segundo mandato.

Fernanda recorda da primeira década do Teatro como sendo um período muito rico em cultura, com apresentações de grandes artistas e grupos teatrais, orquestras e companhias de ballet.

“O espaço é um ícone da cidade, funcionando como uma porta de acesso à arte”, defende Almir Pugina, professor de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, que atua há 18 anos no Teatro.

“Através dele, a população tem tido a oportunidade de assistir à nomes populares do entretenimento, bem como grandes nomes das artes. Inclusive, um dos objetivos desse importante equipamento cultural é o de democratizar o acesso às artes não só ao público, mas também aos realizadores, fazedores da arte do nosso município”, diz Pugina.

Nomes que já passaram pela espaço
A peça de inauguração do Teatro Municipal Manoel Lyra foi “Apareceu a Margarida”, sucesso de crítica e público com Marília Pêra como protagonista. Os ingressos gratuitos se esgotaram dias antes da primeira apresentação.

Logo depois viria Denise Fraga, seguida de outros grandes nomes, sempre atraindo um público numeroso, tanto por bilheteria quanto por projetos culturais com entrada franca.

Matéria do LIBERAL noticia presença da atriz Marília Pera como atração da noite – Foto: Reprodução

Ao longo dos anos, o palco do Manoel Lyra recebeu outros grandes nomes do mundo artístico. Passaram por ali, Elisabeth Savalla, Nathália Timberg, José de Abreu, Clarisse Abujamra, Tiê, Moacyr Franco, Cleyde Yáconis, Malvido Salvador, Rosy Campos, Nany People, Matheus Ceára, Regina Duarte, Lucélia Santos, Maurício Manfrini, Grace Gianoukas, Paulo Goulart e Nicette Bruno, Luís Miranda e Fabiana Karla, dentre tantos outros artistas.

Espaço que movimenta a cultura
Desde a inauguração, o Teatro Manoel Lyra movimenta a cultura de Santa Bárbara. Amauri de Oliveira, fundador e diretor da companhia de teatro Cia XekMat, comenta que, apesar de as apresentações serem gratuitas no início, a estrutura assustou uma parte da população, que se acostumou aos poucos com a novidade.

“No início, quando se trazia produções de fora, o pessoal ficava com um pé atrás, ‘eu não tenho roupa para ir ao teatro’, pensavam. Hoje em dia o pessoal vai como se sente melhor e não existe esse problema”, diz.

Em contrapartida, ele lembra de um episódio em que a companhia lotou o Teatro em 2008, em plena terça-feira chuvosa, tendo vendido apenas 30 ingressos antecipados.

Ao longo dos anos, o Manoel Lyra foi palco para atrações culturais locais e de grandes nomes do teatro brasileiro – Foto: Prefeitura de Santa Bárbara / Divulgação

“Levamos a XekMat ao teatro, a pedido do público, com o espetáculo ‘Do Arco da Véia’. Meia hora antes começou a chegar gente. E teve tanta gente que encheu. Colocamos cadeiras extras, mas o secretário de Cultura da época teve que dispensar o público lá fora, não teve jeito”, lembra.

Segundo a Secretaria de Cultura e Turismo de Santa Bárbara, o teatro movimenta a cultura e promove o entretenimento na cidade, disseminando conhecimento e gerando renda. Apenas em 2019, mais de 45 mil pessoas prestigiaram as atividades realizadas no local.

Amauri de Oliveira lembra que o teatro possibilitou uma grande evolução no fazer artístico da cidade. “Quando nós começamos, em 1990, as apresentações eram feitas nas escolas e entidades ou no anfiteatro da prefeitura. O Teatro Manoel Lyra foi um salto quantitativo e qualitativo incrível. Ajudou muito o segmento teatral ”, conta.

“Uma cidade que tem um teatro utilizado pela comunidade, para as pessoas acessarem a arte, cria uma cultura. O ciclo que a própria existência do teatro faz acontecer é muito bonito. As pessoas nasceram nas artes ali, naquele palco”, opina Lays Ramires, presidente da Câmara Setorial de Teatro de Santa Bárbara, além de coordenadora geral do Espetáculo Via Crucis, atriz e produtora da Cia Arte Móvel.

“Os artistas da minha faixa etária devem muito a esse espaço, que foi criado em uma época muito efervescente e deixou na gente o gosto pela experiência artística”, complementa ela.

Apenas em 2019, mais de 45 mil pessoas prestigiaram as atividades promovidas no local, em diferentes segmentos artísticos – Foto: Prefeitura de Santa Bárbara / Divulgação

Lays apresentou seu primeiro espetáculo no Teatro Manoel Lyra, aos 11 anos de idade, no Fetesb (Festival de Teatro do Estudante Barbarense). O primeiro curso de teatro também seria naquele espaço, para onde voltaria anos depois para dar aulas. Além disso, foram inúmeros espetáculos no mesmo palco, motivo de orgulho compartilhado entre os profissionais.

“Nós, atores, viajamos muito e vemos que a grande maioria das cidades não tem um teatro como o nosso. Quando recebemos artistas de outras cidades ou fazemos mostras, os elogios são muitos pela qualidade do teatro, considerado muito aconchegante”, acrescenta Lays.

Segundo ela, o teatro continua sendo uma referência para os artistas da cidade, com a realização de oficinas e grande variedade de apresentações.

Desafios
Com as portas do Teatro Municipal Manoel Lyra fechadas e programação suspensa devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o secretário de Cultura e Turismo Evandro Felix afirma que o momento é de reflexão sobre as possibilidades de retomada do espaço.

“Todos os teatros terão que se adaptar a essa nova realidade. É um espaço que tem um certo confinamento, que necessita de uma ventilação motora para haver trocas de ar lá dentro. Será com o sistema tabuleiro, com uma poltrona sim e outra não? Quais serão as medidas de higienização que serão impostas? Está sendo um momento de reflexão”, diz.

Raio X do teatro

– O Teatro Municipal Manoel Lyra tem hoje 597 poltronas, sendo 580 assentos simples, 6 para obesos e 11 lugares para cadeirantes.

O local ajudou a formar uma geração de artistas barbarenses – Foto: Prefeitura de Santa Bárbara / Divulgação

- O palco possui 12 metros de proscênio, 9 metros de profundidade e cenário medindo 6 metros por 12 metros.

- São quatro camarins, dois no térreo e dois no primeiro andar.

- No mesmo endereço, na Rua João XXIII, número 61, funciona a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Santa Bárbara.

*Colaborou Sandra Edilene de Souza Barboza, coordenadora de documentação do CEDOC (Centro de Documentação Histórica) da Fundação Romi

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