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Cultura na região

Gravado em Hortolândia, curta debate angústia do isolamento com ares de ficção científica

“Temporário” é o sétimo curta-metragem dirigido pelo artista visual hortolandense Rafael Ghiraldelli

Por Isabella Holouka

30 de julho de 2021, às 07h25

Uma misteriosa viajante do tempo conhecida somente pela alcunha de Crononauta está presa no Brasil dos dias de hoje. Uma forte chuva a obriga a procurar abrigo em uma casa abandonada – e é ali, isolada, que ela se dá conta de que o presente é o ponto de partida para situações adversas testemunhadas por ela no futuro, do ponto de vista ambiental, político e social.

Esta é a sinopse de “Temporário”, curta-metragem gravado em Hortolândia, escrito e dirigido pelo artista visual Rafael Ghiraldelli, que terá sua primeira exibição pública no canal da Secretaria de Cultura de Hortolândia no Youtube na sexta-feira (30), às 20h, seguida de um bate-papo ao vivo com o diretor, equipe técnica e elenco.

Atriz Janaína Batista vive a personagem principal em “Temporário” – Foto: Divulgação

O filme permanecerá disponível no canal por tempo limitado, 48 horas, e passará a ser inscrito daí em diante em diferentes mostras brasileiras de cinema. O trabalho foi realizado através de parceria com a produtora cultural Hocus Pocus e com recursos da lei federal Aldir Blanc, com o apoio da Prefeitura de Hortolândia.

O diretor conta sentir identificação com o gênero narrativo da ficção científica desde a infância. Graduado em Artes Visuais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Rafael é fascinado por histórias em quadrinhos, livros e filmes que abordam universos fantásticos e feitos tecnológicos.

Com a pandemia de Covid-19, ele percebeu que o otimismo por trás das narrativas foi vencido pela popularização de histórias pessimistas, que se passam em contextos distópicos variados. A situação de isolamento vivida pela Crononauta, a protagonista de “Temporário”, representa o que muitos passaram em decorrência do distanciamento social necessário em tempos de pandemia.

Curta-metragem fica disponível no Youtube por tempo limitado – Foto: Divulgação

“Uma situação de isolamento faz a viajante do tempo questionar o seu papel na transformação efetiva do status quo. Ela percebe que precisa se reconhecer como indivíduo de valor único para se manter forte na luta, e reconhece que exercitar a alteridade é essencial para consolidar parcerias que enfrentem a distopia ambiental em curso”, comentou o diretor, em entrevista divulgada à imprensa.

Acostumado a dirigir roteiros escritos por ele próprio, Rafael considera o feedback dos atores essencial para um processo de criação dos personagens o mais orgânico possível. Como desafio, ele cita prazos curtos para a execução de etapas da pré-produção, para prestação de contas da lei Aldir Blanc. “Tivemos que correr contra o tempo em diferentes frentes para garantir que as ideias previstas em roteiro fossem concretizadas”, disse.

Dentre as referências literárias inseridas no curta-metragem, ele cita os romances “O fim da eternidade”, de Isaac Asimov, e “A máquina do tempo”, de H. G. Wells. Também aponta o documentário “Branco sai, preto fica” e a ficção científica “Era uma vez Brasília”, dirigidas por Adirley Queirós, bem como o documentário de ficção científica “The last angel of History”, dirigido por John Akomfrah.

Rafael defende a produção de narrativas de ficção científica que representem melhor as especificidades do nosso país, estado, região ou cidade, segundo os recursos disponíveis, ao invés da perseguição a um ideal predominante segundo o qual o gênero de ficção científica precisa enaltecer tecnologias avançadas, e ser carregado de efeitos visuais computadorizados.

“Sci-fi não deve ser, de forma alguma, um gênero subjugado às novidades técnicas monopolizadas por países econômica ou politicamente preponderantes, mas sim algo que pode investigar, de diferentes maneiras, as relações subjetivas entre seres humanos, mundo e tecnologias. E isso, levando em conta qualquer tipo de tecnologia, nova ou antiga, industrialmente padronizada ou improvisada, de uso popular ou restrito”, conclui.

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