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Cultura

Comportamento tóxico dos homens é a nova saga de humor de Otávio Muller

Por Agência Estado

04 de fevereiro de 2021, às 16h43 • Última atualização em 04 de fevereiro de 2021, às 17h54

Apesar de a pandemia ter furtado o palco dos artistas e da plateia, o teatro continua repensando a sociedade. Em um movimento inédito, as artes da cena parecem ter descoberto na tecnologia a chance de se conectar com o espectador em qualquer lugar do mundo. É nesse ritmo que o ator e comediante Otávio Muller abre Questão de Falha, nesta sexta, 5, um projeto que marca seu retorno aos palcos, ainda que virtual.

O tema escolhido não é novidade, nem está longe de ser superado. O comportamento tóxico de muitos homens – em geral brancos, heterossexuais, e quase sempre poderosos – não deu trégua quando todo mundo podia se aglomerar nem agora, durante a pandemia. Não é difícil testemunhar pelas ruas, grupos de homens sem máscara – o que não é comum entre as mulheres.

Para o artista, isso explica muito a situação atual do Brasil. “É muita prepotência achar que somos invencíveis. O homem foi criado para achar que o mundo é dele. Nosso País é dominado por homens, politicamente falando. Até a gente chegar a esse mundo tão chinfrim de hoje em dia.”

Há 5 anos, o ator experimentou uma sensação semelhante. Quando estreou A Vida Sexual da Mulher Feia, baseado no livro de Claudia Tajes, se divertiu ao interpretar uma mulher honesta com suas experiências amorosas, mas também percebeu que precisava enxergar seu “lugar de fala” no campo da arte. No solo, Muller interpreta Maricleide, que tem grande autocrítica e uma certa indisposição para a velha ditadura da beleza. “Como humorista, acredito que a interpretação é o grande barato de um ator, mas, às vezes, é preciso pedir desculpas, e se restringir.”

Agora no novo projeto, Muller chama a atenção para experiências vividas por muitos homens, o que pode explicar parte do comportamento machista, mas sem perder a chance de se divertir. “Há relatos de como já foi comum o pai levar os meninos para iniciar a vida sexual com prostitutas, aquelas molecagens de colégio, que parecem ter graça, mas que no fundo são imbecilidade, e também a dificuldade de o homem ter certas conversas com o pai.”

A cada cena, Muller vai solicitar a participação da plateia, que pode interagir ativamente durante a sessão na plataforma. Comentários e sugestões são bem-vindos, assim como as críticas. “Não estou pronto e não quero estar pronto. Vai ser uma desconstrução absoluta.”

Enquanto a produção teatral aguarda momentos mais oportunos para uma estreia presencial, Muller se define como um admirador de um modo mais tradicional de teatro. “Costumo funcionar melhor na sala de ensaio, e isso na pandemia é muito complicado. A gente até tenta algumas coisas durante os encontros virtuais, mas é um desafio para qualquer ator”, comenta.

É com bastante nostalgia que ele recorda de Orlando, espetáculo de 1989, inspirado no romance histórico de Virginia Woolf, dirigido por Bia Lessa, tendo no elenco Fernanda Torres, Júlia Lemmertz, Marcos Oliveira, Dany Roland, Cláudia Abreu e Muller. “Quando começamos a ensaiar, ainda não havia previsão de estreia. Seis meses se passaram e, quando soubemos da data, nos preparamos ainda por mais dois. Agora isso é impensável.”

Sua recente direção para o palco, o musical Novos Baianos, com texto de Lúcio Mauro Filho, também despertou saudades no artista. “Teatro é para rasgar o coração e fui cercado por um elenco criativo e cheio de energia.”

A montagem resgata a cena musical brasileira dos anos 1960 e 1970 e relembra o grupo formado por Baby Consuelo, Galvão, Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes. Com elenco formado por músicos, atores e compositores, a montagem fez temporada em São Paulo no fim de 2019, uma das últimas experiências pré-pandemia. “Foi bom reviver o espírito livre dos Novos Baianos. Já estávamos pensando em novos trabalhos quando a quarentena botou todo mundo em casa.”

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