29 de março de 2024 Atualizado 08:41

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Cultura

Com um olhar atualizado

Edição especial de “Haja Coração” dribla anacronismo ao celebrar os anos 1980 de forma contemporânea

Por Geraldo Bessa / TV Press

20 de outubro de 2020, às 10h05

Ao lado de Cassiano Gabus Mendes e Carlos Lombardi, Silvio de Abreu criou o formato básico do que é conhecido como novela das sete, receita exata entre romance e aventura com altas doses de comédia escrachada.

Ideias envelhecem e a aura oitentista de “Guerra dos Sexos” não conquistou o público ao ser revisitada pelo próprio autor de forma anacrônica, em 2012. Autorreferente que só ele, Silvio já havia se tornado Diretor de Teledramaturgia Diária da Globo em 2016 quando resolveu mexer novamente em outro sucesso seu, “Sassaricando”, de 1988, só que soube evitar os mesmos erros.

A importância do projeto pode ser vista no grau de popularidade para as principais duplas da trama, como Tancinha e Apolo, de Maria Ximenes e Malvino Salvador – Foto: Divulgação

De volta à faixa em uma edição especial por conta da pandemia de coronavírus – que paralisou a teledramaturgia da Globo -, “Haja Coração” nasce a partir dos personagens clássicos criados pelo autor, mas com devidas alterações que a deixam com um ar mais renovado e conectada aos sinais do hoje. O que fica claro na mudança de título e pela liberdade de criação dada a Daniel Ortiz, pupilo de Silvio que assina o “remake”.

Atento ao público do horário – que se deixa levar por histórias essencialmente românticas e simples como “Totalmente Demais” –, Daniel retirou tudo o que poderia ser cerebral demais da história e caprichou em bons ganchos amorosos.

A importância do projeto, inclusive, pode ser vista no grau de popularidade e prestígio interno dos atores escalados para as principais duplas da trama, como Tancinha e Apolo, de Maria Ximenes e Malvino Salvador, Rebeca e Aparício, de Malu Mader e Alexandre Borges, e o triângulo formado por Camila, Giovanni e Bruna, de Agatha Moreira, Jayme Matarazzo e Fernanda Vasconcellos. Como se estivesse atirando para todos os lados, o que não falta é protagonista para os romances criados por Ortiz.

A leveza romântica do texto contrasta com o tom irreal de seu humor. Ingrediente básico da faixa, a comédia aparece em destaque e exageros propositais. Humoristas mais escolados como Cláudia Jimenez, Marcelo Médici e Grace Gianoukas conseguem equilibrar o texto histriônico com uma atuação espirituosa. O destaque negativo, entretanto, fica com Tatá Werneck, que parece ter entendido o jeito mimado de sua Fedora como uma sucessão de gritos e caretas.

ESTÉTICA COLORIDA

Dirigida por Fred Mayrink, que por muitos anos fez parte da equipe do saudoso Jorge Fernando, falecido em 2019, “Haja Coração” soa como pastiche de alguns trabalhos comandados pelo experiente diretor. Abusando de uma estética extremamente colorida e de uma condução de atores mais frouxa e com espaço para improviso, Fred também utiliza a mesma edição rápida e sonorizada com músicas populares amplamente implementada por Jorge.

A inspiração tem sua razão de ser, mas o andamento ágil demais acaba atropelando um pouco o texto. Porém, nada que não esteja em sintonia com o ritmo frenético das novelas recentes. Reciclando velhas e boas ideias já conhecidas do público com propriedade, a edição especial de “Haja Coração” consegue provar que “remakes” podem respeitar o passado e ainda assim render novas e boas histórias.

Publicidade