28 de março de 2024 Atualizado 10:14

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Cinema

Na disputa com blockbusters, ‘Minha Mãe É Uma Peça 3’ leva a melhor

Por Agência Estado

12 de janeiro de 2020, às 07h00 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h14

Na entrevista que deu ao jornal O Estado de S. Paulo, pouco antes da estreia de Minha Mãe É Uma Peça 3, o ator Paulo Gustavo disse que não temia a concorrência de Star Wars: Episódio IX. Poderia parecer bravata do astro, mas a Força, realmente, esteve com ele. Hoje, enquanto você estiver lendo este texto, A Ascensão Skywalker já desacelerou, foi substituído por outros blockbusters de Hollywood, e Dona Hermínia segue poderosa. Até quinta-feira, 9, Minha Mãe É Uma Peça 3 – que estreou há três semanas, no dia 26 de dezembro – havia atingido a marca de 5,8 milhões de espectadores. As projeções indicam que, neste domingo, 12, o filme deve chegar a 6,5 milhões de pessoas, talvez mais. “A gente só consegue projetar o limite quando o filme começa a cair num padrão persistente, e isso nem de longe está ocorrendo. Nosso público aumentou na segunda semana”, conta o produtor e distribuidor Bruno Wainer, da Downtown, associado à Paris Filmes.

“Todas as manifestações de amigos e das redes sociais anunciam que o filme virou um fenômeno. Nosso objetivo era fazer comédia com emoção, e conseguimos. Minha Mãe 2 fez 9,5 milhões de espectadores e eu estou otimista de que vamos ultrapassar. Isso é raro. Em Hollywood, somente Toy Story 3 superou a renda do anterior”, diz a diretora Susana Garcia. O próprio Paulo Gustavo conta – “Fui ao Shopping Village Mall (na Barra, no Rio), que tem cinco salas. Quatro exibiam a gente, a quinta sala era de Star Wars. Esperei a saída e as pessoas vinham chorando do Minha Mãe”.

Na entrevista anterior, o senso crítico do repórter o levara a duvidar de que aquele final pudesse ser efetivo. Todas aquelas dedicatórias – ao marido, aos filhos, à mãe, à irmã. Paulo Gustavo nunca teve dúvidas. “Desde que iniciamos o projeto, o Paulo queria que a bandeira do filme fosse o amor. O casamento do Juliano, a maternidade da Marcelina, tudo ia colocar Dona Hermínia à prova. E ela ia reagir com aquele discurso no casamento do filho. Orgulhosa de ele estar sendo quem é. Aquele discurso deu um trabalhão danado. Encontrar as palavras exatas, justas. Nada de mais, nem de menos. E quando o Paulo disse que queria as dedicatórias, já estava no clima. Bora!”, lembra a diretora.

Em um país com muitos casos de homofobia e preconceito, como entender que o maior fenômeno de bilheteria seja um gay assumido, pai de gêmeos, que representa vestido de mulher e faz o público rir e chorar? “É a emoção”, acredita Susana. “É a verdade”, diz o próprio Paulo. “As pessoas sentem que eu sou verdadeiro. O filme tem casamento homoafetivo, que ainda pode ser um tema-tabu, mas, desde o início, eu disse que queria. Mas não para chocar, não para provocar. Não preciso empunhar bandeira nenhuma porque eu já sou a bandeira.”

Dona Hermínia contra Hollywood? “Dona Hermínia é a própria Hollywood, a nossa Hollywood”, reflete Paulo. “Mesmo fragilizada, sozinha, com os filhos vivendo a vida deles, ela é a nossa heroína. Todo mundo tem mãe, todo mundo pode se identificar com o amor de mãe.” E a mãe do próprio Paulo? “Tem horas que eu acho que ainda não caiu a ficha dela. Minha mãe virou a mãe de todo o mundo. Nas redes sociais, aonde ela chega, a mãe do Paulo, a Dona Hermínia real, é sempre alvo do maior carinho. Acho que consegui, e sem agredir ninguém. Tudo o que faço é em nome da superação, da inclusão. Nesse País tão dividido, as pessoas têm necessidade de afeto, e é disso que o filme fala.”

Bruno Wainer lembra – “Em 2009, lançamos Divã, que era um filme da Lília Cabral. O Paulo tinha duas cenas. Fazia o cabeleireiro, e as duas foram para o trailer. Era muito engraçado, e teve 100% de aproveitamento. Um tempo depois, a (produtora) Iafa Britz me procurou: Lembra aquele cara, ele está com uma peça que quero que você veja. Fui. Estava cheio, era uma sala pequena, o que seria o nosso off-Broadway. A ideia do filme começou a surgir ali. A Iafa foi a mãe da criança, e não pense que foi fácil. Possíveis investidores não botavam fé. Não tinha roteiro, só uma sucessão de piadas.

Um chegou a perguntar: ‘E por que esse cara, por que não Marieta Severo no papel?’. Foi preciso vencer muito preconceito, mas o filme foi feito, estourou. O primeiro foi mérito da Iafa, que batalhou. Dei minha contribuição, talvez se outro não se interessasse, não tivesse ido adiante. Mas o Paulo é um fenômeno e ia terminar estourando. O segundo filme foi insistência minha, assumo.”

No Brasil onde as leis de patrocínio estão em debate, Minha Mãe É Uma Peça 3 custou R$ 13 milhões financiados sem incentivo. Globo, Telecine, Universal e Fox colocaram dinheiro vivo, mas cerca de 80% do total vieram das pré-vendas das janelas. Todos querem Dona Hermínia. E agora, face ao estrondoso sucesso – além de Episódio IX, Minha Mãe 3 já deixou para trás Frozen 2 -, teremos o 4? Não se depender de Paulo. A própria Susana Garcia confirmou que será um ano de muito trabalho para ela, mas a prioridade agora é a série. “Assinei para fazer quatro temporadas de Minha Mãe para a Globoplay e o Multishow. Serão 45 episódios e eu vou realizar todos.”

Mãe universal

Susana não acredita no ‘vamos fazer’. Paulo Gustavo pode ser um fenômeno de comunicação – como Dona Hermínia, no Vai Que Cola, embora tenha feito só o primeiro, ou nos filmes com a irmã dela, Mônica Martelli -, mas Susana é adepta do planejamento, e isso significa em todas as etapas. Na fase do roteiro, ela grudou em Paulo anotando todas as ideias, as possíveis cenas, os possíveis diálogos. Cada cena era escrita e reescrita exaustivamente e, quando Susana dizia ‘encadernada!’, isto é, pronta, não era verdade. No dia seguinte, vinha cheia de ideias. Paulo, que criou a personagem, não cessa de elogiar a Susana diretora. “Quero sempre fazer o melhor para o público, e a beleza do filme, o bom gosto, o acabamento, tudo é mérito da Susana. Além do ouvido (para os diálogos), ela tem o olho da diretora.”

Dona Hermínia não vai acabar nunca, avalia Iafa Britz, que comete uma pequena indiscrição, tão deliciosa que o repórter não se furta a acrescentar ao texto. Sua mãe (judia) identificou-se tanto com Dona Hermínia que dizia que o filme era sobre ela, e não sobre a mãe de Paulo, Dona Déa. Na verdade, isso apenas reitera o que já foi dito. Dona Hermínia é a mãe universal.

Bruno Wainer diz que Paulo conseguiu o mais difícil, quase impossível – conectou-se com o inconsciente coletivo. Outro diretor, André Pellenz, já dizia isso do primeiro filme. Vida longa a Dona Hermínia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Publicidade