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Cinema

Drama sobrenatural de Andrucha Waddington, ‘O Juízo’ fala de traição e vingança

Por Agência Estado

05 de dezembro de 2019, às 07h30 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h15

Fernanda Torres conta que sentiu o que define como “herança cármica” de Minas ao visitar uma fazenda que pertenceu à família de Paula Lavigne. “Era um clima muito pesado que, no meu imaginário, evocou escravidão, extrativismo, todo um passado colonial”, ela explica. Deu-lhe a vontade de escrever um roteiro, o que ela fez.

O filme que estreia nesta quinta, 5 – O Juízo -, é o mais novo resultado da parceria de Fernandinha, como costuma ser carinhosamente chamada para diferenciar da mãe, a grande Fernanda Montenegro, com Andrucha Waddington. Juntos na arte e na vida. E, dessa vez, não é só a sogra que Andrucha dirige. Seu filho com Fernanda, Joaquim Torres Waddington, de 19 anos, faz uma expressiva estreia como ator.

“Não foi nepotismo, não. Testei muitos jovens para o papel, e ele foi testado também. Saiu-se melhor. É talentoso, sim”, diz o orgulhoso pai. Além de atriz, Fernandinha já fora roteirista para o irmão, Fernando Torres, em Redentor e dera seus pitacos – os palpites – na obra do marido. “Andrucha não sabia como terminar o Eu Tu Eles e eu sugeri aquele final. O de Casa de Areia, no qual era atriz, com mamãe, foi o Ruy (Guerra) quem deu. Cinema é arte colaborativa. Dá para sugerir, e o diretor acata ou não. Isso não torna o filme menos dele.”

No caso de O Juízo, tão logo começou a escrever, deu-se conta de que o desafio era encarar o cinema de gênero. “Isso foi há cinco anos, porque escrevi lá em 2014, e naquele tempo o cinema de terror ainda não se tornara essa tendência de hoje do cinema brasileiro. Estávamos no ciclo das comédias”, lembra.
Começou a surgir a história de Couraça, o escravo que traficava diamantes e foi traído, morrendo, com a filha, na emboscada armada por um ancestral de Augusto Menezes, o personagem de Felipe Camargo.

Resumindo, Augusto perdeu o emprego e até o respeito próprio, devido ao alcoolismo. Falido, tenta recomeçar nessa fazenda que herdou, mas é assombrado pelos fantasmas de Couraça e da filha. O fantasma cobra uma dívida, que não é outra coisa senão o velho olho por olho. Quer a vida do filho de Augusto, interpretado pelo filho do diretor e da roteirista. Couraça, impressionante, é criado por Criolo, que já tivera algumas participações (pequenas) em filmes, mas aqui ganha seu grande papel – e corresponde.

Para Fernanda Torres, a experiência foi decisiva porque, no lastro de O Juízo, vieram livros, crônicas. Ela conta: “Quando escrevo, não formulo um plano, seja para romance ou roteiro. Vou escrevendo, possuída pelos personagens que vão determinando o rumo”. O repórter brinca que é o casamento perfeito, porque Andrucha, como diretor, à maneira de John Huston, parece não ter um estilo.

Ele serve às histórias que quer contar, e embora cinema de gênero tenha virado sinônimo de terror, Andrucha, na verdade, tem testado gêneros – comédia, comédia romântica, drama psicológico, suspense, musical. Basta analisar sua obra – Eu Tu Eles, Casa de Areia, Sob Pressão, Chacrinha, O Juízo, etc. “É o que mais gosto de fazer – contar histórias. Entendo perfeitamente isso que você diz que o Huston afirmava. O Tesouro de Sierra Madre, que ele escreveu e dirigiu, é um dos meus filmes favoritos.” Fernanda intervém. “Ele (o marido) não tem um estilo, mas todos os filmes são estudos de personagens, e essa preocupação com o humano faz dele, para mim, um autor.” O autor retribui e diz que O Juízo, que define como drama sobrenatural, é seu melhor filme.

“Eu acho”, palavra de Andrucha. “Foi um filme que deu muito trabalho, mas também deu muito prazer. Essa coisa de criar um clima.” Achar o cenário ideal – a fazenda – já foi difícil. Localiza-se na fronteira de Minas. “Fazer terror com vacas no pasto não é fácil, meu amigo.” Agora é Fernanda, de novo, falando. Admite que tinha medo de fracassar. “Tive consultoria de roteiro, mas era uma coisa nova. Ao escrever, vieram os clichês do gênero e eu parei de lutar contra eles. O Iluminado (Stanley Kubrick), Os Inocentes (Jack Clayton), que é genial. E o cinema é dinâmico. Você escreve uma coisa e o diretor tem de se virar, conforme as circunstâncias.” Ocorre que choveu muito no set e os acessos para a fazenda, o pasto, tudo virou um lamaçal. “O filme ficou muito mais sombrio”, admite ainda o diretor.

Depois de tanta expectativa, Fernanda agora ri. “Pô, apesar de aquele cara (Roberto Alvim) dizer que mamãe é sórdida, e ela não é? (Pergunta para o repórter.) Mamãe é a sordidez encarnada.” É ironia, gente. Fernandinha divaga: “Não queria, de forma irresponsável, destruir a reputação da família com um mau terror. Essas coisas horríveis que ele (Alvim) disse terminaram sendo positivas porque criaram um movimento de celebração da mamãe e ela virou unanimidade. Seus 90 anos viraram uma festa do Brasil. E o público tem correspondido à proposta do filme (O Juízo)”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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