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Retrospectiva

Melhores e Piores do ano: força plural na linha de shows

Prova de que é possível fazer humor sem apelar para o preconceito rasteiro foi a nada óbvia reformulação do "Zorra"

Por TV Press

31 de dezembro de 2019, às 08h25

A tevê vem passando por diversas transformações ao longo dos últimos anos. Na linha de shows, o estilo de humor e o modo de se comandar um programa seguem essa linha evolutiva. Com o público ligado nas redes sociais e interagindo sem atravessadores com as produções, tudo é visto e criticado ou elogiado.

É perceptível que em, em 2019, há cada vez menos espaço para comediantes que tentam produzir risos a partir da humilhação de minorias. Pelo jeito, profissionais que se sentem perseguidos e se baseiam em máximas como “o mundo anda cheio de ‘mimimi’” ou “não se pode mais falar nada que as pessoas se ofendem” terão de abandonar as piadas prontas e se esforçar um pouco mais. Até porque é completamente.

Foto: Divulgação
“Zorra” é a “Melhor Produção Humorística” de 2019

A prova de que é possível fazer humor sem apelar para o preconceito rasteiro foi a nada óbvia reformulação do “Zorra”, escolhido como “Melhor Produção Humorística” de 2019.

Nos programas como um todo, o diálogo aberto e a pluralidade de temas e personagens foram as características mais marcantes da temporada. Articulados e prontos para o improvável, Fátima Bernardes e Fábio Porchat fizeram do “Encontro Com Fátima Bernardes” e do “Que História é Essa Porchat?” lugares leves para debates e risadas.

Por isso, se destacaram nas categorias “Melhor Programa de Auditório” e “Melhor Programa de Entrevista”, respectivamente. A versatilidade também se fez presente na experiente Ana Maria Braga que, no ano em que completa 20 anos de Globo, mostrou que o “Mais Você”, eleito “Melhor Programa de Variedades”, entende seu público e deixou a mesmice para trás.

Em sua décima quarta temporada, o quadro “Dança dos Famosos”, enfim, ganhou a relevância que sempre buscou. Responsável por aumentar a audiência do “Domingão do Faustão”, a produção investiu em elenco forte, cenários, figurinos e direção musical. Por tanto capricho, foi indicado como o “Melhor Programa de Competição ou Talent Show” de 2019.

O ano também teve alguns tropeços e “Destaques Negativos”. A Globo já demonstrou que é capaz de conceber programas ruins como “Tomara que Caia”, “Adnight” e “Divertics”, mas ninguém poderia imaginar que a tão esperada renovação das tardes da emissora seria o tosco “Se Joga”. A maior prejudicada e também responsável pela falta de apelo e qualidade do vespertino é Fernanda Gentil, que apostou alto no próprio carisma ao se aventurar no entretenimento.

Melhor Produção Humorística: “Zorra”, da Globo

Por muitos anos, o “Zorra Total” marcou as noites de sábado com seu humor tradicional e carregado de preconceitos e clichês. Em 2015, a Globo aproveitou a aposentadoria do recém-falecido diretor Maurício Shermann para, enfim, renovar o humorístico de sábado. Além de ressurgir apenas como “Zorra”, a produção aglutinou uma talentosa equipe de cerca de 20 roteiristas sob a supervisão do comediante Marcius Melhem e dos diretores Maurício Farias e Mauro Farias.

Deixando de lado os quadros fixos, bordões, mulheres seminuas, apropriações culturais e piadas com minorias, a reinvenção do programa acabou por ter como referência o humor esperto e sagaz promovido pela trupe da Porta dos Fundos e da extinta MTV Brasil.

A audiência estranhou, mas a Globo acertadamente comprou a briga e, quatro anos depois das alterações, o “Zorra” não só conquistou seu próprio público, como tornou-se uma divertida lente de aumento do caos político e social do Brasil de hoje. Escolhido por “TV Press” como “Melhor Produção Humorística”, o programa tem em seu casting o que há de melhor no humor nacional, com destaque para Dani Calabresa, Welder Rodrigues e Paulo Vieira, entre outros.

Melhor Programa de Auditório: “Encontro Com Fátima Bernardes”, da Globo

Há sete anos, Fátima Bernardes deixou o setor de jornalismo e investiu alto na área de entretenimento da Globo. À frente do “Encontro com Fátima Bernardes”, a apresentadora foi, aos poucos, entendendo melhor sobre seu público e como poderia ir além de um simples programa matutino. No período, Fátima perdeu o tom sisudo, experimentou diversos quadros e colaboradores e optou por uma postura próxima, direta e natural para chegar ao telespectador.

Escolhido como “Melhor Programa de Auditório” de 2019, o “Encontro com Fátima Bernandes” hoje é palco de discussões que não fogem da “briga”. E são as convicções sóbrias e esclarecidas da apresentadora, que discorda com leveza e propriedade, seja de seus convidados da própria plateia, que deixam a produção mais dinâmica e em sintonia com os principais debates da atualidade.

Apostando alto na emoção, um dos destaques do programa ao longo do ano foi o quadro “TBT”, onde a apresentadora volta ao passado de seus convidados e brinda o público com boas histórias.

Melhor Programa de Entrevista: “Que História é Essa, Porchat?”

Seduzido pela vontade de ter seu próprio “talk show”, Fábio Porchat aceitou o convite da Record para apresentar o “Programa do Porchat”, em 2016. Escondido nas noites bíblicas da emissora, Porchat até conseguiu receber alguns nomes mais difíceis, casos de Xuxa e Sasha Meneghel, do casting da própria emissora. Porém, no geral, o nível dos convidados era rasteiro e desinteressante.

Depois de duas temporadas, ciente da desimportância do projeto, Porchat decidiu se jogar no mercado. No canal pago GNT, encontrou a liberdade e os convidados relevantes que precisava para ter um programa interessante, o que permitiu que se destacasse ao longo do ano com a hilária e criativa temporada de “Que História é Essa, Porchat?”.

Nele, reúne anônimos e famosos, que compartilham casos inusitados de suas vidas. Bom mediador e verdadeiramente interessado no que seus convidados têm para contar, Porchat diverte e surpreende ao mesclar entrevistas com terapia de grupo e parece ter realmente encontrado seu lugar de fala na tevê.

Melhor Programa de Competição ou Talent Show: “Dança dos famosos”, da Globo

O passar dos anos sem um concorrente realmente forte fez do “Domingão do Faustão” um dos programas mais preguiçosos e arrastados da tevê. Desde 2005, entretanto, o dominical ganha uma injeção de ânimo ao longo dos quatro meses de duração do quadro “Dança dos Famosos”.

Em sua 14ª temporada, a disputa representa um alívio para a equipe de produção do programa. Afinal, por alguns domingos, seja por conta dos jurados convidados ou da diversidade do elenco, o programa não precisa de grandes apelações para “funcionar”. Por muito tempo, o quadro era um encontro entre nomes do segundo escalão da emissora com celebridades esquecidas pela mídia.

Nos últimos anos, entretanto, o “Dança dos Famosos” conseguiu o tão esperado prestígio ao seduzir nomes como Christiane Torloni, Paolla Oliveira, Fernanda Souza e Carol Castro para o seu “casting” e ainda renovar seu corpo de jurados técnicos com a presença de Maria Pia Finocchio e J. C. Violla.

Investindo alto em emoção, direção musical, efeitos visuais, a edição 2019 conquistou o público com seus competidores cheios de atitude e carisma, casos de Luis Lobianco, Regiane Alves e, em especial, Dandara Mariana.

Melhor Programa de Variedades: “Mais Você”, da Globo

Em 2019, Ana Maria Braga e seu “Mais Você” completaram duas décadas de Globo. Ao longo desse período, a apresentadora já passou por diversos momentos de “altos e baixos” dentro da emissora. Boa de lábia, com mente empreendedora e ciente de seu público, Ana Maria Braga resolveu evitar picuinhas internas e melhorar o antes estagnado conteúdo de seu programa.

Com a culinária em alta, o “Mais Você” deixou pautas de comportamento descabidas e o jornalismo sensacionalista de lado e investiu em diversas competições gastronômicas de anônimos e famosos. O resultado foi aumento na audiência, prestígio interno e a consagração como “Melhor Programa de Variedades” pelo terceiro ano consecutivo.

À vontade, Ana também passou a ser mais natural na condução da produção, ficando em paz com suas gafes e exageros e deixando os convidados cada vez mais participativos, mesmo tendo de acordar muito cedo para marcar presença no estúdio.

Melhor Apresentador: Fátima Bernardes

Fátima Bernardes sempre foi carismática. Até quando estava na bancada do “Jornal Nacional” e assumia uma postura séria na maior parte do tempo. Mas foi no comando do “Encontro com Fátima Bernardes” que ela enfim, teve a oportunidade de se soltar. Segura de que seu projeto de apresentar um programa dentro do entretenimento da Globo daria certo, ela ultrapassou os primeiros anos de audiência oscilante e formato incerto para firmar nas manhãs da emissora.

Sete anos depois da estreia, aparou os exageros do programa, conseguiu uma boa dose de autonomia para expor seus pontos de vistas, tem sempre convidados relevantes em seu sofá e ainda consegue ser natural até na hora de fazer merchandising. O segredo de Fátima foi não se acomodar.

Momento Bizarro 2019: “Live” do Presidente Jair Bolsonaro

Os ataques de Jair Bolsonaro marcaram o estilo de comunicação do novo presidente. Em vez de se explicar em eventos e coletivas, Bolsonaro prefere falar para o seu público cativo a partir de transmissões ao vivo nas redes sociais.

Nenhuma “live” do presidente chocou tanto o público quanto a realizada logo após a matéria exibida pelo “Jornal Nacional”, repercutindo o depoimento de um dos porteiros do condomínio Vivendas da Barra, que afirmou que foi o próprio Bolsonaro quem liberou a entrada de Élcio de Queiroz, um dos suspeitos dos homicídios de Marielle Franco e Anderson Gomes, ao condomínio no mesmo dia do crime. Tanto a reportagem quanto os âncoras do telejornal afirmaram que o nome do então deputado federal constava na lista de presença da Câmara no fatídico dia, mas Bolsonaro chorou, esbravejou e intercedeu pelos filhos, que sequer foram citados na matéria.

A bizarrice presidencial humilhou os outros dois eventos que concorreram este ano. O primeiro foi o preconceito, a falta de classe de Silvio Santos, que ignorou a votação da plateia, proposta por ele mesmo, e tirou a vitória da cantora negra Jennyfer Oliver, que teve 84% dos votos, para dá-la à participante Juliane, que teve 5% dos votos.

O outro foi a eleição pelos espectadores, do goleiro Sidão, do Vasco da Gama, como Craque do Jogo, na Globo. O goleiro, com uma falha clamorosa, abriu o caminho para a derrota de seu time diante do Santos, pelo Campeonato Brasileiro.

Constrangida, mas de forma bastante obediente, a repórter Júlia Guimarães, da Globo, entregou o troféu ao goleiro após o jogo, o que o deixou bastante ofendido. Após o episódio, a Globo decidiu que os espectadores podem até votar, mas quem decide o Craque do Jogo são os comentaristas e jornalistas que participam da cobertura.

Destaque Negativo Pessoal: Fernanda Gentil, da Globo

Reconhecida por seu carisma e boa “entrada” com um público heterogêneo, Fernanda Gentil foi convidada pela emissora a migrar do jornalismo esportivo para o setor de entretenimento. Por meses, a Globo manteve o suspense de como seria a estreia da apresentadora na linha de shows.

Após muitas reuniões secretas e especulações, enfim, a emissora resolveu usar o poder de comunicação de Fernanda na complicada grade vespertina, onde há anos vem perdendo audiência para o policialesco “Balanço Geral”, da Record.

Mistura de tudo o que há de mais bobo e popular, o esperado projeto feito para Fernanda brilhar foi o “Se Joga”, que de tão fraco provoca até saudade do finado “Vídeo Show”, de quem roubou o lugar na grade. Em vez de manter o nível do programa perante a inexperiência de seus parceiros Fabiana Karla e Érico Brás, Fernanda entrou no mesmo esquema de não ter qualquer noção sobre o que está falando, em um programa bagunçado e sem razão de existir.

Destaque Negativo Produção: “Se Joga”, da Globo

Há tempos que a Globo não errava tanto em um programa como fez e faz com o “Se Joga” Após tirar do ar o histórico “Vídeo Show” de forma repentina, a emissora parecia querer inovar nas suas tardes, que por anos seguiu uma estrutura funcional, mas engessada.

Após oito meses de “gestação”, a emissora fez questão de fazer um programa para acolher não apenas os órfãos do “Vídeo Show”, mas também o público abrangente que busca fofocas no SBT e notícias policiais na Record.

Sem um formato definido, o “Se Joga” é um amontoado de informações e quadros superficiais que nem mesmo o famoso “casting” da Globo consegue salvar. Fabiana Karla e Érico Brás mostram diariamente que mereciam estar escalados para séries e novelas, em vez de fazerem um papelão em rede nacional.

Mas quem perdeu mesmo a aposta foi Fernanda Gentil, que largou uma carreira de “palhaça da turma” no jornalismo esportivo para brincar no entretenimento em um programa patético. A única coisa que ainda salva o programa é o simpático e divertido quadro “Isso é Muito Minha Vida”, protagonizado por Paulo Vieira. Uma pequena ilha de qualidade em meio ao que há de mais enfadonho na tevê.

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