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Ator

Irandhir Santos comenta trajetória na TV

Após ampla relação com o cinema, ator estreita os laços com a televisão na pele do poderoso Álvaro de “Amor de Mãe”

Por TV Press

03 de fevereiro de 2020, às 15h40 • Última atualização em 03 de fevereiro de 2020, às 15h41

Tranquilo e articulado, Irandhir Santos não se esquiva de olhares e muito menos de perguntas. Após muitos anos dedicado quase que integralmente ao cinema, ele vem ressignificando a tevê em sua trajetória de forma gradual.

Sem preconceitos, mas também selecionando bem cada passo, é com o poderoso Álvaro, principal antagonista de “Amor de Mãe”, que o ator celebra sua participação no vídeo e abraça a popularidade de um personagem que é capaz de tudo para se manter no topo. “Álvaro é muito ambicioso, mas também é capaz de amar de verdade. Acho que todo mundo é meio assim”, ressalta.

Foto: Divulgação / TV Globo
Para Irandhir, ator deve ter todos os personagens dentro de si

Natural da pequena cidade pernambucana de Berreiros, aos 41 anos, Irandhir é um dos atores mais premiados de sua geração. Tudo por conta de desempenhos intensos e arrebatadores em filmes como “Baixio das Bestas”, “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” e “Tatuagem”.

Em 2007, o burburinho em torno de seu nome fez com que ele estreasse na tevê em “A Pedra do Reino” sem a necessidade de testes. Mesmo gostando da experiência sob a direção de Luiz Fernando Carvalho, só retornou aos estúdios da Globo sete anos depois, para papéis de destaque na minissérie “Amores Roubados” e no “remake” de “Meu Pedacinho de Chão”.

“Voltei e fiquei. Acho que a televisão é um lugar de grandes personagens. Tenho tido muita sorte e vou aproveitando isso enquanto me chamarem”, garante o ator, que também esteve em “Velho Chico” e na recente “Onde Nascem os Fortes”.

Sua relação com a tevê vem se consolidando ao longo da última década. Como foi esse processo?

Irandhir Santos
Natural. Trabalhei com o Luiz Fernando Carvalho em “A Pedra do Reino”, em 2007, e depois disso eu comecei a fazer muito cinema. Não tinha tempo para me envolver com projetos de longa duração, era um momento eu que precisava e queria muito viver. E foi um filme atrás do outro mesmo. Entre 2005 e 2010, por exemplo, estive em 12 longas (risos).

Você tinha algum preconceito ou mesmo falta de interesse pelos temas e formatos da televisão?

Irandhir
Nada disso. Eu precisava, é claro, de um projeto que me fizesse ter vontade de estar na televisão. Em 2012, isso aconteceu de forma dupla. O José Luiz Villamarim me chamou para fazer “Amores Roubados” e o Luiz Fernando me mostrou o projeto incrível de “Meu Pedacinho de Chão”. Aproveitei a agenda mais folgada e fiz os dois trabalhos. Foi muito gratificante e, pela primeira vez, pude sentir a repercussão popular que é estar em uma novela.

O assédio do público e da imprensa aumentaram muito com o Álvaro de “Amor de Mãe”?

Irandhir

Embora eu já tenha uma novela das nove no currículo, em “Amor de Mãe” o papel é muito mais presente na trama. Então, aumentou a curiosidade sim, mas é algo que eu lido com muita tranquilidade. Engraçado que, por conta do visual “raspado”, acaba que muita gente fica olhando e vai me reconhecendo aos poucos. Embora o Álvaro seja um personagem de atitudes deploráveis, me surpreendi com a resposta do público, que é sempre muito carinhosa.

O fato de Álvaro ser vilão foi importante na hora de você acertar sua participação na novela?

Irandhir
Não. E, honestamente, não acho que Álvaro seja um vilão. Pelo menos não aquele clássico das novelas, que reside na ambição desmedida e um pouco vazio de objetivos. Álvaro é um cara muito poderoso que gere uma empresa lucrativa e administra tudo de acordo com seus interesses. É um cara que está aí pela vida.

A questão ecológica de “Amor de Mãe” está em total sintonia com o cotidiano brasileiro. Você considera Álvaro um personagem “político”?

Irandhir
Sem dúvida. A gente acorda no Brasil de hoje e uma cidade mineira foi dragada pelo rompimento de uma barragem, o mar do Nordeste está sujo de óleo e a Amazônia, pegando fogo. A negligência e o descaso diante de tudo isso refletem diretamente na conduta do personagem em relação às suas conexões e falta de punição. É uma pauta muito importante para ser retratada e debatida no horário nobre.

“Amor de Mãe” é sua primeira novela contemporânea e com tintas mais “realistas”. O que muda na preparação para esse tipo de obra?

Irandhir
Acredito que o ator precisa ter todos os personagens dentro de si. Virei meu olhar para o mundo de hoje e suas mazelas. Conversei muito com o Villamarim também. Gosto do jeito acolhedor com que ele lida com o processo criativo do elenco.

Em que sentido?

Irandhir

Ele sabe o que quer de cada produção, mas também aceita a figura do ator que “cria” em cima do personagem. Então, a troca que vem dessa liberdade artística é sempre muito produtiva. É o tipo de atitude que valoriza o ator e o deixa à vontade para encarar um personagem ao longo de seis meses. Nunca trabalhei tanto em uma novela e ao mesmo tempo estive tão feliz e satisfeito com o resultado.

Visual poderoso

Irandhir Santos adora mudar de acordo com seus personagens. Mas durante os testes de caracterização e figurino, ficou pensativo com as sugestões da caracterizadora de “Amor de Mãe”, Gilvete Santos. “Ela me olhou e disse que seria interessante o Álvaro ter a cabeça toda raspada. Ainda não tinha feito um personagem careca e fiquei meio sem reação”, relembra.

A surpresa do ator residia na curiosidade sobre o processo de trabalhar de Gilvete. Como resposta, obteve apenas a palavra “poder”.

Foto: Divulgação
Para personificar a figura poderosade Álvaro, Irandhir teve que raspar os cabelos

Ao vestir as roupas de Álvaro, já com a cabeça devidamente raspada, Irandhir se olhou no espelho e aí conseguiu entender a ideia geral traçada pela equipe de caracterização.

“Foi uma sensação estranha. Enxerguei no reflexo um homem extremamente poderoso e seguro de si, que combina muito com o estilo machista do personagem”, valoriza.

Olhar de fora

A concentração e o jeito com que Irandhir Santos encara a câmera sempre impressionou o diretor de fotografia e cineasta Walter Carvalho. A fixação de Walter com o método de criação de Irandhir ao longo das filmagens do longa “Redemoinho”, dirigido por José Luiz Villamarim, em 2017, acabou rendendo outro trabalho.

Em “Iran”, documentário carregado de poesia onde Carvalho flagra o ator em seu habitat natural: a atuação. “Não fui nem avisado sobre essas filmagens. Quando vi, o material já existia”, conta.

Fugindo de qualquer viagem ególatra, entre anotações, comentários, entrevistas e exercícios, a produção se utiliza de tom experimental para desnudar Irandhir em cena.

“Walter me disse uma coisa que me deixou mais seguro em relação a ser o único nome dessa produção. ‘Iran’ não é um filme sobre mim, mas sobre a experiência do ator”, analisa.

Instantâneas

# Irandhir Santos é formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Pernambuco.

# O ator pisou pela primeira vez em um “set” de filmagens para uma pequena participação em “Cinemas, Aspirinas e Urubus”, filme dirigido em 2005 por Marcelo Gomes.

# Mesmo contratado da Globo, o ator continua com residência fixa em Recife, capital de Pernambuco.

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