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Cultura

‘Cafés da Mantiqueira’ retrata produção do valioso grão

Por Agência Estado

02 de fevereiro de 2021, às 13h20 • Última atualização em 03 de fevereiro de 2021, às 08h54

Como as grandes paisagens do Brasil, a sabedoria indígena se revela no nome. Grande fonte de água potável e cercada por riachos, a Mantiqueira significa “gota de chuva” para os povos tupis. O conjunto de terras altas, espalhado ao longo de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, fez da Serra da Mantiqueira um espaço estratégico para a produção de café, consumido no Brasil e no mundo.

O livro Cafés da Mantiqueira, do fotógrafo Ricardo Martins, vencedor do Prêmio Jabuti, transporta os admiradores da bebida em uma viagem rica em visual pela história da produção do café na região.

Produzido durante dois meses de viagem, por 13 cidades e 20 fazendas de cafés especiais, o livro foi imaginado quando o fotógrafo paulista preparava Amantikir a Serra que Chora, focado no registro ambiental, envoltos em lendas, de animais, paisagens e moradores da Serra da Mantiqueira. “No período em que estive na região, era impossível não tomar café o dia inteiro”, aponta o fotógrafo. “Nunca imaginei que fosse tomar café como se toma vinho.”

A influência e a qualidade dos cafés não mudaram apenas os hábitos de Martins. Ao reparar nas plantações, o fotógrafo encontrou uma paisagem que faz da “gota de chuva” tupi uma combinação saborosa e desejada por todos os amantes da bebida. “É muito interessante saber que produções pequenas, feitas com simplicidade, e por famílias, são também cafés premiados e reconhecidos fora do País”, conta o fotógrafo que percorreu plantações mineiras de Baependi, Cristina, Santa Rita do Sapucaí, Pedralva, e São Tomé das letras, entre outras.

Embora a Mantiqueira carregue em suas serras boa parte da histórica da produção do grão no Brasil, nem sempre foi assim. Antes de desembarcar no Sudeste, a produção cafeeira se moveu pelo País, guiada pelo consumo, mas também atraída pelo poder, atesta Ensei Neto, especialista em café e colunista do Paladar, do Estadão. “Os primeiros cultivos no Brasil começaram pelo Pará, depois Ceará, Pernambuco e Bahia, quando Salvador era a capital do Brasil, por volta de 1.700. Mais tarde, a produção seguiu gravitando o poder, quando a capital foi transferida para o Rio de Janeiro, e se ocupou o Espírito Santo, as matas de Minas Gerais e São Paulo.”

Do ponto de vista da paisagem, Neto explica que a Mantiqueira mostra seu potencial não apenas pelas fontes de água potável, mas pelas características do terreno e do clima. “A insolação e as conformações da serra, com suas várias faces, permitem um plantio em diferentes condições e a altitude auxilia no desenvolvimento da fruta.”

Nas fotografias de Martins, a diversidade também se mostra. O livro traz a cultura do café em plantações familiares, com produção de 40 sacas, até grandes agricultores, que extraem 13 mil sacas de café. “Quando pensei no projeto, tinha em mente as paisagens, mas a presença humana também está lá, principalmente na produção familiar”, explica o fotógrafo do livro que traz na capa dois trabalhadores puxando um saco de café de 80 kg.

Em um bairro mineiro, a arquitetura das casas indica a vocação das famílias na cultura do café. “A única parte cimentada fica exposta ao sol e serve para a secagem dos grãos. Quando chega a época da colheita, as famílias se ajudam começando pelos plantios mais maduros, até que todos sejam colhidos.”

Segundo Neto, a produção do café na região reuniu, assim como as uvas, uma espécie de grão que se adaptou muito bem na Mantiqueira. “O Bourbon é uma variedade considerada primitiva, e que gerou outras. Em clima de montanha, se tornou uma bebida excelente.”

O livro de Martins também traz novidades. Por meio de um QR Code, o leitor pode acessar vídeos com bastidores das fotos. “Muita gente me pergunta o que está por trás da foto, como o fotógrafo se prepara para clicar, e a ideia é trazer em vídeos curtos os bastidores.

Ao longo da produção do livro, Martins também gravou uma série de oito episódios, dirigida por Fábio Tanaka, com histórias de produtores e detalhes sobre a cafeicultura na Mantiqueira. Ainda sem data de estreia.

Serviço

Cafés da Mantiqueira. RM Produções. Edição bilíngue. 204 páginas. R$ 60.

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