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Roda viva

Banda de Campinas reúne músicas de Chico Buarque em novo canto de protesto

Quarteto de Francisco, el Hombre encara arte como meio de comunicação potente e posicionamento político como responsabilidade

Por Isabella Holouka

10 de junho de 2021, às 08h12

“A gente quer ter voz ativa / No nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda viva / E carrega o destino pra lá”. Música defendida por Chico Buarque, ao lado do grupo vocal MPB-4, no 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, “Roda Viva” acaba de ganhar uma nova versão.

Criada pela banda de Campinas Francisco, el Hombre para integrar a trilha-sonora de “A Fantástica Fábrica de Golpes” (The Coup d’État Factory), documentário de Victor Fraga e Valnei Nunes que pretende abordar um colapso da democracia brasileira a partir do impeachment de Dilma Rousseff, a releitura faz uma citação a outro clássico de Chico Buarque, “Apesar de Você”.

A canção já está disponível nos aplicativos de streaming e também ganhou um videoclipe – com direção de Gabi Jacob – no canal do grupo no Youtube.

Ao LIBERAL, a banda formada por Juliana Strassacapa (voz e percussão), Mateo Piracés-Ugarte (voz e violão), Sebastián Piracés-Ugarte (voz e bateria) e Andrei Martinez Kozyreff (guitarra) disse encarar a arte como um meio de comunicação potente, capaz de envolver as pessoas em emoções e questionamentos, sem pedir licença, e com grande potencial de transformação.

“No nosso caso, com a música, buscamos utilizar essa ferramenta com responsabilidade. Seria muito benéfico que a classe artística se utilizasse disso de maneira responsável e consciente do momento político e social em que se vive”, afirmam por e-mail, citando Nina Simone: “o dever de um artista, no que me diz respeito, é refletir os tempos”.

“‘Roda Viva’ é uma música cíclica, que vai acontecendo de novo e de novo, sempre levemente diferente, porém em ciclos. O contexto em que essa música surgiu, após o golpe militar de 64, traz muitas semelhanças com o período que vivemos atualmente, com crises políticas, questionamento sobre os direitos básicos humanos, manipulação midiática… Tudo isso parece se repetir na história, que é cíclica como a canção”, observa Mateo.

“Clássicos têm sentido de serem chamados assim, são obras que nenhuma traça corrói”, destaca ainda a banda.

“Nada soará puramente como algo que já existe, acaba passando pelo raio hibridizador da Francisco”, afirma a banda – Foto: Rafael Avancini

O grupo se viu desafiado na hora criar uma nova versão para “Roda Viva”. Os integrantes incluíram detalhes que marcaram a própria trajetória em cada “ciclo” da faixa, como um forte arranjo de vozes, inspirações sonoras latinoamericanas (tendo o bachata, estilo surgido na República Dominicana, como referência), presença de guitarra e também a participação do instrumentista chileno Rodrigo Rojas nos teclados.

“A sonoridade da Francisco é bem assim, fusões. Nada soará puramente como algo que já existe, acaba passando pelo raio hibridizador da Francisco. Roda Viva não foge a isso”, afirmou o quarteto.

A banda formada em 2013 no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, ganhou notoriedade em 2017 quando ganhou um Grammy Latino na categoria melhor canção em língua portuguesa com “Triste, Louca ou Má”.

Eles trabalham em um novo disco e revelam satisfação em tirar da gaveta músicas escritas há 5 ou 7 anos, mas que alcançaram certa maturidade. “A Francisco retornou ao ponto zero, às raízes. Agora temos mais consciência sobre nossos atributos, pontos fortes, vontades e identidade. O contorno luminoso da egrégora que é Francisco, el Hombre está cada vez mais nítido, assim como nosso senso de confiança mútua dentro deste coletivo”, finaliza.

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