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Arte

Um canibal devorado

Por Agência Estado

15 de agosto de 2019, às 07h30 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h13

Mais do que um representante da vanguarda artística brasileira, o arquiteto e artista visual Flávio de Carvalho (1899-1973) foi um modernista de primeira hora – o “antropófago ideal”, segundo Oswald de Andrade – que sempre andou na contramão.

Literalmente. Em 1931, parado numa esquina à espera da procissão de Corpus Christi, levou a cabo o que ele classificou de Experiência Número 2: andou na direção contrária aos fiéis, usando um chapéu, atitude claramente desrespeitosa segundo a tradição católica. O resultado, previsível, foi a intervenção da polícia para salvar o artista carioca do linchamento, nascido – ironia – numa cidade chamada Amparo da Barra Mansa.

Foi esse transgressor que a Inglaterra acabou de conhecer numa exposição realizada entre abril e maio na Galeria S/2 de Londres e que agora chega a São Paulo em versão maior, na Galeria Almeida & Dale, a partir deste sábado, dia 17.

Flávio de Carvalho, por causa de seu comportamento sarcástico, sempre foi reduzido a um estereótipo que não condiz com sua estatura – seja como arquiteto ou artista.

Passou à história como o primeiro homem a usar uma minissaia no centro de São Paulo, em 1956 (sua Experiência Número 3, a do New Look), isso uma década antes de Mary Quant cunhar o nome da saia cortada acima do joelho, provocando escândalo semelhante na Inglaterra, país onde Flávio estudou e se formou. Ao voltar ao Brasil, em pleno ano da Semana de Arte Moderna, ele já tinha planos de fazer o País ingressar na modernidade mesmo que a fórceps.

Warchavchik (1896-1972) construía a primeira casa modernista em São Paulo quando Flávio de Carvalho apresentou, em 1927, um projeto futurista para o Palácio do Governo, algo tão ousado que poderia ser o cenário do clássico filme Metrópolis, de Fritz Lang, que, aliás, estreou no final daquele mesmo ano no Brasil. Os exemplos da vocação visionária do artista são tantos que as páginas do jornal seriam insuficientes para enumerá-los. Alguns deles estão na exposição, com curadoria de Kiki Mazzucchelli, crítica independente.

Foi a exposição que ela organizou na S/2 londrina que tirou Flávio de Carvalho da obscuridade – as suas contribuições para a história da arte brasileira permanecem, segundo ela, “praticamente invisíveis” fora do País. A mostra destaca, em particular, o trabalho do artista como retratista, que buscou na representação do outro uma forma de traçar um perfil psicológico de seus modelos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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