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Arte

Exposição no Itaú Cultural reúne 800 obras de Franz Weissmann

Por Agência Estado

27 de novembro de 2019, às 07h50 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 09h51

O escultor de origem austríaca Franz Weissmann (1911-2005), naturalizado brasileiro, é bem conhecido do público paulistano, embora não seja reconhecido de imediato por centenas de pessoas que circulam por lugares como o Museu de Arte Brasileira da Faap, o MAM de São Paulo, a Pinacoteca do Estado, o Memorial da América Latina ou a Praça da Sé, locais que ostentam obras do artista, a maioria das décadas de 1970 e 1980. Nos dez últimos anos, porém, nenhuma exposição do escultor foi montada aqui. O Itaú Cultural corrige essa falha com a abertura, nesta quarta-feira, 27, da mostra Franz Weisssmann: o Vazio como Forma, antologia com curadoria de Felipe Scovino que reúne 800 peças em sua sede.

Trata-se de uma exposição que, embora não seja uma retrospectiva no sentido convencional, permite ao visitante acompanhar a trajetória de Weissmann desde os anos 1940, exibindo peças inéditas e 14 obras originais acessíveis (táteis, para os visitantes cegos ou de baixa visão). São mais de 50 esculturas de pequeno, médio e grande porte, outro tanto de desenhos e mais 730 maquetes pertencentes ao acervo do Instituto Franz Weissmann, parceiro do Itaú Cultural na realização da mostra, o que inclui o empréstimo de uma escultura icônica do artista, Cubo Azul (1978-2011), ao Parque Mário Covas, na avenida Paulista.

A exposição coincide com os 60 anos da assinatura do Manifesto Neoconcreto (1959). Weissmann participou de várias exposições do neoconcretismo, movimento formado por artistas que pertenceram, como ele, ao Grupo Frente, entre 1955 e 1956 (Ivan Serpa, Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape, entre outros). A obra mais antiga em exposição é um pouco anterior: é uma escultura de 1949, Carambola, que pode ser vista na primeira sala do piso inferior junto a desenhos figurativos, de natureza matissiana, e geométricos. Também nesse andar é possível ver outra raridade, a série dos Amassados, obras feitas na Europa após uma viagem pelo Oriente, nos anos 1960, em que, segundo o curador Scovino, fica evidente a proximidade com os ideogramas – elas são exibidas junto aos desenhos.

Classificado entre os principais construtivistas do Brasil, ao lado do amigo Amilcar de Castro, Weissmann foi pioneiro da abstração, como prova o Cubo Vazado de 1951 (que é exibido na mostra numa versão do próprio artista, de 1995). Essa escultura foi recusada na primeira edição da Bienal de São Paulo, justamente a que trouxe ao Brasil a Unidade Tripartida do suíço Max Bill, considerada um marco do concretismo. Weissmann já fazia experiências abstratas antes da 1ª Bienal, mas a comissão desconsiderou seu esforço, rejeitando o Cubo Vazado por seu “acabamento precário” (suas obras figurativas foram aceitas). Weissmann reconsiderou e apresentou uma versão aperfeiçoada na Bienal de 1953.

Da época podem ser vistas na mostra esculturas que replicam o modelo de sua Coluna Concretista (1952-1953) e seus cubos lineares virtuais (1954), ao lado de peças figurativas que sugerem certo parentesco com as esculturas de Bruno Giorgi (Flautista Barroco, de 1954, é um exemplo). Essa passagem da figuração para a abstração está bem ilustrada na exposição do Itaú Cultural com exemplares que evocam as curvas de Henry Moore (nas obras figurativas) e a limpeza formal do russo Antoine Pevsner e do romeno Brancusi, duas referências de Weissmann quando ele seguiu o caminho da abstração.

O Cubo Vazado tem uma importância singular por desenvolver o conceito de “vazio ativo” na obra de Weissmann, traduzindo de forma clara uma inaudita percepção do espaço. O curador Felipe Scovino chama a atenção para a contínua transformação do cubo na obra do escultor e sua relação com o espaço arquitetônico, mas não resume sua observação à forma geométrica. “A cor é essencial na obra de Weissmann, e também nisso ele foi pioneiro”, lembra o curador.

Grande parte da produção escultórica de Weissmann é composta de módulos, produzidos com os mais variados materiais (aço pintado, ferro, alumínio e até chapas de zinco, como na série Amassados). O escultor, animado com as possibilidades expressivas da cor, agregou a essas obras uma variedade de matizes até então impensáveis dentro da tradição construtiva. “A supressão da base e a torção do material industrial são outras duas características do trabalho de Weissmann, além da forma como o vazio institui uma nova condição de volume”, observa o curador Scovino. A mostra, além de esculturas, desenhos e maquetes, traz uma versão virtual do Monumento à Paz e um mapa com a localização de todas as obras públicas de Weissmann em São Paulo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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