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Arte

Ao estrear exposição Björk Digital, multiartista fala sobre sua carreira

Por Agência Estado

18 de junho de 2019, às 07h25 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h13

Vinte anos se passaram desde o lançamento do clipe All is Full of Love, da cantora islandesa Björk, que retratava uma comunhão hipnótica entre duas versões robóticas dela mesma. De lá para cá, a artista continuou testando as fronteiras entre música, arte e tecnologia – sem considerar a última, de forma nenhuma, essencialmente maligna ou rasa de sentido. O resultado de todas essas experiências pode ser conferido na exposição de realidade virtual Björk Digital, que estreia no Museu da Imagem e do Som (MIS) nesta terça-feira, 18.

Björk conversa sobre a mostra com o jornal O Estado de S. Paulo por telefone. “Eu amo montanhas e escaladas, mas mando mensagens de celular para os meus amigos. Eu amo a praia, mas assisto à Netflix”, afirma. “Minha vida é 50% natureza e 50% tecnologia. Eu não prefiro um ao outro”.

Produzido durante e após o divórcio da cantora com o também artista Matthew Barney, o álbum Vulnicura (2015) é o cerne da exposição que chega ao Brasil após passar pela Europa e América do Norte. Na mostra-instalação, o público pode conferir seis trabalhos do disco (Stonemilker, Black Lake, Mouth Mantra, Quicksand, Family e Notget) com óculos de realidade virtual e fones de ouvido. Uma imersão completa no universo digital de Björk, aprimorado disco após disco.

“Faço as coisas por instinto, mas depois os motivos se tornam mais óbvios”, diz a cantora sobre a escolha dos trabalhos que compõem a exposição. “Vulnicura é um álbum emocionalmente alienante, isolador”, afirma. “É como quando algo terrível acontece com você e você liga para um amigo para contar um segredo”.

Björk define o álbum como “uma ópera de coração partido de uma pessoa só”. E é nesse sentido que procura, em suas próprias palavras, permanecer fiel à música. “É muito difícil explorar a emoção de Vulnicura. Nunca performei o disco em programas de TV por isso. Mas quando alguém coloca os óculos de realidade virtual e os fones de ouvido, é como se eu estivesse cantando para ela. De uma pessoa para outra, e só”.

A experiência pode ser sufocante. Em Black Lake, a tecnologia ajuda a recriar a sensação claustrofóbica de estar dentro de uma caverna, sem conseguir enxergar uma luz no fim do túnel. Em Notget, o público tem a sensação de estar entre escombros, enquanto um avatar da cantora canta e dança acima de suas cabeças. Em Mouth Mantra, tudo se passa dentro da boca de Björk.

Trajetória

Björk e tecnologia se desenvolveram lado a lado. A videografia da islandesa, composta por 58 clipes, é parte tão importante da sua obra quanto as músicas. Não à toa, Björk tem em seu currículo trabalhos com diretores reconhecidos, como Spike Jonze (Her) e Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).

O desenvolvimento da tecnologia, nos últimos anos, permitiu novas extravagâncias visuais. Stonemilker, clipe lançado em 2015, foi gravado em 360 graus. Notget VR, de 2017, se passa em um mundo criado virtualmente. Para Björk, a inserção da tecnologia na arte é uma questão de honestidade. “Está presente em tudo, é mais sincero se a incluirmos em tudo o que fazemos”, diz.

No mesmo tom em que conversa sobre trivialidades, Björk ruma para questões filosóficas. Conta que, diz atrás, tomava drinques com um amigo enquanto discutia a dualidade entre claridade e escuridão. “Há milhares de anos, havia uma polarização entre o bem e o mal, representados pela luz e pelas sombras. Hoje, esse conflito talvez se dê entre a natureza e a tecnologia”, afirma. “Para sobreviver, nós precisamos criar pontes entre as duas”.

Fábula

Com mais tecnologia e menos dor, Björk se dedica, agora, ao álbum Utopia (2017), disco que sucedeu Vulnicura e substituiu o registro sonoro de suas feridas abertas por sons de flautas e pássaros, em um clima de sonho. No espetáculo Cornucopia, atualmente em turnê, Björk reúne sete flautistas mulheres, 50 jovens islandeses e caixas de som estrategicamente posicionadas em torno do público, que criam uma experiência de som em 360 graus. “Eu reuni o mais importante das minhas experiências com realidade virtual e levei para o Cornucopia”, explica.

Experiência que os brasileiros não terão, pelo menos a curto prazo. “Eu adoraria voltar ao Brasil”, diz a cantora, que se apresentou no país em 1996, 1998 e 2007. O impedimento é a situação econômica do País. A título de exemplo, os ingressos para o Cornucopia no México custam o equivalente a R$ 2. 100 reais.

É possível determinar um álbum preferido, após todas essas experiências? Björk afirma que não. “Todos são memórias, e cada pessoa recebe cada álbum de uma forma”, diz. “É impossível saber qual disco é ‘o melhor'”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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