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Um encontro marcado no céu

Por Katya Forti

19 de setembro de 2024, às 08h56

A existência material com toda a sua finitude transforma-se em preciosa oportunidade para torná-la única, incomparável, inesquecível. Todos esses atributos e muitos mais encaixam-se perfeitamente na trajetória e na personalidade adorável e cativante de Jocelyna Medon Bianco. Ou simplesmente “Dona Joyce”, como tornou-se conhecida na cidade de Americana.

A memória prodigiosa era destaque e de forma muito espontânea e empolgante ela compartilhava seus conhecimentos. Viveu intensamente os seus 99 anos. Sempre com dinamismo e simpatia, acolhendo para junto do seu abraço e afeição, todos os que compõem a sua família.

A manhã de domingo, 15 de setembro, reservava uma surpresa aos leitores. Carlos Reis, com traços genuínos e legenda idem, eternizou a imagem de Jessyr Bianco, recebendo Jocelyna, com muita alegria. As asas de um anjo em cada um deles e duas palavras repletas de sentimento, selando um encontro marcado no céu. “Que saudade”.

A charge perfeita para que surgisse a inspiração para o título deste artigo. Meus olhos marejaram quando vi imagem tão singela.

Disse a mim mesma: “se faltava algo para que pudesse reverenciá-la, agora não falta mais”. Pouquíssimas vezes estive diante de Dona Joyce e breves foram as nossas conversas. Contudo, a generosidade e afeto sempre estiveram presentes, quando dizia que me admirava muito e lia todos os artigos.

Não me recordo o ano, mas certa vez eu estava trabalhando na recepção do posto de saúde quando fui surpreendida por uma ligação. Atendi e do outro lado da linha era Jocelyna, que fizera questão de me parabenizar por um artigo que escrevi e que havia sido publicado na ocasião. Sua atitude foi algo tão marcante em minha vida que eu jamais esqueci.

“Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor. Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: Já se foi. Terá sumido? Evaporado? Não. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha, quando estava próximo de nós.

Continua tão capaz, quanto antes, de levar ao porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver, mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: Já se foi, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: Lá vem o veleiro.

Quando o veleiro parte, levando um amor que nos foi caro e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: Já se foi. Terá sumido? Evaporado? Não. Apenas o perdemos de vista.

E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: Já se foi, no mais além, alguém dirá feliz: Já está chegando.

Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena. A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.

A nossa vida, de modo geral, é marcada de partidas e chegadas. De idas e vindas. Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada”. 

Katya Forti
Pedagoga e escritora
katyaforti.kf@gmail.com

Colaboração

Artigos de opinião enviados pelos leitores do LIBERAL. Para colaborar, envie os textos para o e-mail opiniao@liberal.com.br.