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Histórias de Americana

Somos reféns da colonização?

História americanense narra os feitos das imigrações estadunidense e europeia, ainda que a cidade tenha sido construída também pelo trabalho de pessoas escravizadas

Por lizabete Carla Guedes, Gabriela Simonetti Trevisan, Jefferson Luis Bocardi e Mariana Spaulucci Feltrin

14 de fevereiro de 2021, às 10h17 • Última atualização em 14 de fevereiro de 2021, às 10h31

A história americanense narra os feitos das imigrações estadunidense e europeia, ainda que a cidade tenha sido construída também pelo trabalho de pessoas escravizadas. Essa forma de olhar para o passado é uma escolha política que advém da reprodução de pesquisas de memorialistas desde os anos 1970, basta folhear as publicações sobre a história da cidade para logo perceber que as figuras exaltadas são os latifundiários brancos e escravocratas da elite.

Os cidadãos mais atentos já devem ter se dado conta de que os nomes de ruas, praças, monumentos e prédios públicos fazem referência a esses sujeitos históricos. Um exemplo é o Museu Histórico e Pedagógico Municipal Dr. João da Silva Carrão, nome de um conhecido defensor da imigração confederada, homenageado em um espaço erigido por mão de obra escravizada.

Também notamos essa problemática nas datas comemorativas que fazem parte do calendário oficial do município: as diversas comemorações religiosas cristãs (a exemplo da Lei 939/69) e de homenagem aos imigrantes brancos (como a Lei 2984/96).

Contudo, é perceptível a resistência do poder público a reconhecer da mesma forma a contribuição da população negra no passado americanense. A discussão sobre o feriado do Dia da Consciência Negra é uma dessas feridas abertas. A primeira promulgação da lei que garante o reconhecimento do 20 de novembro na cidade é de 2016, vinte anos depois da aprovação da comemoração do Dia da Comunidade Italiana.

Todavia, logo em 2017, a legislação altera a comemoração para o terceiro domingo do mês de novembro, descaracterizando a data, escolhida em homenagem a Zumbi dos Palmares. Essa mudança não aconteceu sem a resistência do movimento negro atuante na cidade e duramente silenciado na ocasião.

Como historiadores e pesquisadores das fontes históricas sobre Americana, tentamos trazer há algum tempo uma visão crítica sobre o branqueamento do nosso passado regional, processo que foi acompanhado por um racismo estrutural que permeia toda a cultura brasileira.

Portanto, reconhecemos nossa branquitude e defendemos que o antirracismo deve ser adotado como postura ética, lutando não só pela existência do Dia da Consciência Negra em uma cidade cujo passado está atrelado à vida da população negra como pela renovação da memória coletiva.

*Elizabete Carla Guedes, Gabriela Simonetti Trevisan, Jefferson Luis Bocardi e Mariana Spaulucci Feltrin – Membros do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado à pesquisa histórica sobre Americana

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.