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Histórias do Coração

Rosa e Rubens

Foi em um domingo de agosto de 1949 que Rubens ofereceu um morango para Rosa em uma feira, fazendo essa história começar

Por Carla Moro

17 de outubro de 2021, às 08h11 • Última atualização em 17 de outubro de 2021, às 08h12

Agosto de 1949

Está escrito nos livros, nas músicas e nos filmes que o amor costuma começar da seguinte maneira: então, naquele dia, o rapaz conheceu a moça. Variam-se os rapazes e as moças, os dias também. Muitas vezes chove, porque a chuva tem preferência por cair no começo das histórias de amor (ou no fim, já que grandes histórias precisam de um pouco de drama quando acabam). Contudo, deixando de lado essas pequenas variáveis, o enredo geralmente parte do mesmo ponto: o encontro.

A Rosa e o Rubens encontraram-se às seis da manhã de um domingo, na barraca de frutas. A moça estava acompanhada pela mãe e arrastava o carrinho de feira e o tédio pela rua do bairro. A Rosa só queria voltar para casa, mas a mãe insistia na companhia.

O Rubens também acompanhava a família, mas estava um pouco mais disposto que a Rosa. Todos os domingos, saía bem cedo do sítio onde morava em Limeira para ajudar os pais na feira. Chegavam muito cedo ao bairro em que a Rosa morava. Rubens era do tipo falador, dava bom dia, puxava assunto, oferecia a mercadoria. Quando viu a Rosa pela primeira vez subindo a rua puxando o carrinho de feira, por um momento, ele esqueceu o que precisava dizer.

Então, naquele dia, o rapaz conheceu a moça: no primeiro domingo de agosto, com vento frio e a rua quase vazia. Poucos tinham arriscado sair tão cedo em um domingo tão frio. Rubens viu a Rosa atravessando a feira como quem atravessa um deserto: torcendo para encontrar um caminho de volta.

Foi preciso que o moço oferecesse um morango para que a moça erguesse os olhos do chão.

A filha da Rosa me conta essa história. Ouvia sempre a mãe falar do moço da feira por quem tinha se apaixonado ainda adolescente. Os amores da adolescência costumam ter esse gosto doce, como o morango oferecido pelo Rubens.

No domingo seguinte, a Rosa estava de pé antes mesmo que a mãe chamasse. Foi para a feira satisfeita: desta vez, ela atravessou a rua como quem atravessa um reino. Ela era dona daquele chão e sabia até onde deveria caminhar.

Rubens se aproveitou da distração da mãe da Rosa e pediu o endereço da moça, prometendo uma visita quando a feira acabasse. A Rosa esperou, e o moço foi, levando uma cestinha com algumas frutas que tinham sobrado da feira.

Nas semanas que se seguiram, o Rubens inventava desculpas para aparecer no portão da Rosa. A saudade sempre apertava antes que chegasse o domingo. E quando o domingo chegava, a Rosa subia a rua até ver, lá em cima, o Rubens esperando por ela.

Foi então que, no último domingo de agosto, a Rosa viu um espaço vazio onde deveria estar a barraca do Rubens. O coração deu um salto. Ninguém sabia porque a família não tinha aparecido. E ninguém soube nos domingos que se seguiram. Naquele dia, chovia. E, quase nunca, a chuva costumava cair em agosto.

Está escrito nos livros, nas músicas e nos filmes que o amor costuma começar da seguinte maneira: então, naquele dia, o rapaz conheceu a moça. Mas o que não se diz é que o amor costuma terminar com a mesma rapidez com que começa.

O Rubens nunca mais apareceu no portão da Rosa, e ela viveu uma vida toda falando do moço da barraca de frutas da feira que lhe ofereceu um morango em um domingo de manhã.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com