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Histórias do Coração

Rosa e Altair

Casal se conheceu na praça durante uma comemoração da vitória do Brasil sobre a Suécia, na Copa do Mundo de 1950

Por Carla Moro

22 de agosto de 2021, às 08h16 • Última atualização em 22 de agosto de 2021, às 08h17

Durante a 2ª Guerra Mundial, a Copa do Mundo de futebol foi suspensa. Quando, em 1950, o Brasil sediou os jogos, a competição já não acontecia desde 1938. As famílias se reuniam ao redor do rádio para ouvir as transmissões. Aqueles que não tinham o aparelho, iam até a casa dos vizinhos para não perder os jogos. Foi depois de uma vitória do Brasil, que a Rosa e o Altair se conheceram.

A história do coração deste domingo chegou por e-mail. Rita, filha da Dona Rosa e do Seu Altair, me escreveu perguntando se poderia contar a história dos pais, ainda que eles não estejam mais vivos e que nenhuma foto tenha restado depois de um incêndio na casa da família.

As histórias chegam pelos mais variados caminhos: por e-mail, pelas redes sociais, às vezes por conhecidos. Avisei a Rita que a única obrigatoriedade é que a história fosse de amor. Qual não foi a minha sorte quando descobri que a história da Rosa e do Altair falava sobre dois amores: o amor de um pelo outro e o amor pelo futebol.

De férias escolares, a Rosa viajou para a casa da prima, em Amparo, que também era a cidade do Altair. Rosa era de Campinas, moça da cidade grande. Sua chegada causou uma pequena euforia entre os moços do interior. Menos no Altair, que só queria saber da Copa do Mundo.

A primeira vez que ele viu a moça, estavam todos na praça comemorando a vitória do Brasil sobre a Suécia. Parece que naquele ano, o Brasil era favorito ao título. A paixão foi instantânea e eufórica. Ouviram juntos os jogos que se seguiram, e o Altair fez uma promessa: se o Brasil saísse vitorioso, pediria a Rosa em casamento. A moça torceu pelo Brasil mais do que qualquer uma das 200 mil pessoas presentes no estádio do Maracanã na final da Copa do Mundo de 1950.

Como se sabe, o Brasil perdeu para o Uruguai por 2×1. Mas, se estou contando essa história hoje, já se pode imaginar que o amor não se importou com a derrota. Casaram-se em julho de 1951.

Rosa e Altair mudaram-se pra Americana no início da década de 1960 e tiveram três filhos. A Rita é a caçula. Nasceu em 1962, o ano em que a seleção brasileira foi bicampeã do mundo. Seu Altair ouviu a final no hospital. Prometeu a Rosa que, se o filho fosse menino, se chamaria Edson. Mas o Pelé se contundiu e não jogou a final, e a caçula era uma menina, afinal de contas. Dona Rosa pode então escolher o nome da criança sem nenhuma interferência futebolística.

Rita tinha quase oito anos quando viu o pai chegando em casa com a primeira televisão da família, para desespero da Dona Rosa, vendo o tamanho do gasto do marido, e a alegria das crianças e dos vizinhos.

A Copa do Mundo de 1970 foi a primeira a ser transmitida ao vivo pela televisão. Naquele ano, o Brasil seria tricampeão mundial, em uma final contra a Itália. Rosa e Altair comemorariam a vitória do Brasil vinte anos depois, em outra cidade, com três filhos, em outra praça, reunidos com os amigos e vizinhos. Mas, me perdoem o clichê (porque de clichês o amor também é feito), naquele dia, não era o Brasil, mas sim o amor, o maior campeão.  

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com