“Véspera”, de Carla Madeira, é um livro que vai ficar comigo por muito tempo. É uma história para devorar, cheia de mistérios e reviravoltas. Mas também é uma obra poética, em que o impacto das frases demora para ser absorvido. Queria vencer as páginas rapidamente para descobrir tudo que o livro escondia. Por outro lado, mesmo após o último capítulo, ainda me sinto sob o efeito das palavras dessa escritora.

O livro começa com uma mãe que, em um momento de loucura, abandona o filho de cinco anos na calçada de uma avenida movimentada. Poucos minutos depois, percebe o erro que cometeu e faz o retorno para buscar a criança, mas o menino sumiu. O livro vai costurando o desespero dessa mãe e todas as vésperas que culminaram com esse dia.

É difícil ir além disso sem cair em spoilers, mas a obra recria a história bíblica de Caim e Abel, irmãos que protagonizaram o primeiro assassinato da humanidade. O que mais gostei no livro foi justamente a criação de personagens complexos e profundos. Mesmo com poucas frases, Carla Madeira consegue desenhar um ser humano completo, cheio de erros, traumas e desejos. A forma como ela faz o leitor compreender todos os personagens, mesmo em seus momentos mais desprezíveis, é impressionante.

A trama rocambolesca, cheia de surpresas e reviravoltas, é outro destaque. Fiquei muito impressionada com “Tudo é rio”, primeiro livro de Carla Madeira, mas “Véspera” mostra um amadurecimento da escritora. Se no primeiro alguns acontecimentos eram improváveis, neste a autora acerta completamente o tom e não deixa a verossimilhança de lado em nenhum momento.

Deixo a forte recomendação dessa escritora brasileira contemporânea e especialmente do livro“Véspera”.

“São sempre enormes as coisas da infância, as maiores que teremos na vida, eu penso. As mais inesquecíveis. Talvez, as mais sentidas como verdadeiras. Passamos o resto do tempo atrás dessa sensação”, Carla Madeira em “Véspera”