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Cotidiano & Existência

Religar-se

Em tempos de incomparáveis avanços tecnocientíficos, é preciso resgatar a crença nos recursos existentes no íntimo de cada ser humano

Por Gisela Breno

02 de março de 2021, às 13h28 • Última atualização em 02 de março de 2021, às 13h32

O ser humano traz gravado em sua memória sinais de completude, de plenitude, de proteção uterina, que na tela de sua vida, pincelam nuanças de Paraíso.

Somos potencialidades infinitas, eterno vir-a-ser; no entanto não deixamos, muitas vezes, nem que se revele, se exprima, se concretize o singular Homo sapiens que desde sempre somos, pois submersos estamos em mecanismos e instituições hábeis em instilar certezas, verdades, anseios estranhos ao nosso modo de verdadeiramente ser e à nossa razão de existir.

Anestesiados por condicionamentos, formação inconsistente; inundados por rios de imagens e informações pré-fabricadas cujo poder de devastar singularidades é aterrador, imobilizados pelas algemas do olhar reducionista, homens e mulheres deste século não vislumbram o Homo sapiens mente, corpo e alma, transpassado pelo sopro da energia criadora e imorredoura.

Enxergam o ser Humano, a Natureza, o Mundo, o Cosmo como objetos separados do seu eu. Incorporaram o papel de meros espectadores de tudo e de todos que os rodeiam; afastam- se inclusive, de si mesmos.

Improvável sentirem-se então parte de um Todo, improvável serem pontes para propiciar espaços e vivências para transmissão e construção de conhecimentos e saberes.

Nessa caminhada insossa tornam-se frequentemente massas informes, relutantes em despertar do sono profundo em que foram colocados, sem forças para conseguir ouvir o som da própria voz; clones sem nomes e sem a paixão que os move em direção ao resgate do sentido de suas existências; surdos aos apelos de união que ecoam ao seu redor; incapacitados para perceberem que, das experiências de ser parte de um Todo, emerge um sentido de corresponsabilidade não apenas com os homens e mulheres de seu tempo, mas com os destinos do Universo.

Em tempos de incomparáveis avanços tecnocientíficos, de pulverização da singularidade, da exaltação do ter, de pasteurização e amortecimento de consciências, é preciso resgatar a crença nos recursos existentes no íntimo de cada ser humano, gestar a sensibilidade pelos mistérios e encantos da vida e da natureza, é mister reencontrar o cordão umbilical que nos liga ao ventre do Universo.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.