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Histórias do Coração

Regina e Carlos

O Carlos e a Regina, esse casal que anda de mãos dadas, mostra ao tempo que nem muito tempo é capaz de impedir que um sinta falta do outro

Por Carla Moro

17 de janeiro de 2021, às 11h32

Qual o tempo do amor? Enquanto conto essa história, é preciso ter essa pergunta em mente, porque o tempo do amor desse casal é contado em décadas. Três décadas e quatro anos. Sobre quantas coisas é possível dizer que duraram três décadas e quatro anos?

A Squalidus era uma disco club muito frequentada pelos jovens de Americana na década de 1980. O Carlos era noivo na noite em que conheceu a Regina na Squalidus. Era sábado e ela já estava quase indo embora. No meio das escadas que levavam até a saída, ela resolveu voltar junto com uma amiga e dar uma última olhada no lugar. Não fosse essa volta e o Carlos não teria puxado conversa com a moça que parou no balcão do bar.

A Regina, conversando com a amiga e o bartender, disse que pensava em se tornar freira. O Carlos, que já tinha visto a moça lá outras vezes, completou: se for assim, eu viro padre. Sacrilégios à parte, a cantada funcionou. Ele ofereceu uma carona para a moça e o tempo da nossa história começou. O tempo um, do primeiro dia.

O tempo em que ouço essa história, o tempo de agora, é o de 34 anos. Depois que passam, três décadas e quatro anos têm o tamanho de um piscar de olhos.

A Regina, preocupada, me diz que não consegue se lembrar de todos os detalhes. O Carlos, me diz exatamente a mesma coisa.

Regina e Carlos – Foto: Arquivo Pessoal

Mas ela me conta que, no começo do namoro, o casal foi a um parque de diversões e o Carlos deu de presente para ela um urso de pelúcia enorme, prêmio na brincadeira da pesca.

Já o Carlos, conta que levou a Regina para comer coelho no jantar em que ficaram noivos. Eu me arrisco a dizer que o tempo dá a dimensão daquilo que vale a pena ser lembrado.

A Regina morava em uma casa de esquina, que o Carlos gostava de virar cantando os pneus do Gol branco todos os dias quando chegava para namorar.

O tempo do dia um transformou-se logo em um ano enquanto a Regina adivinhava o rock pesado no toca-fitas. Amor que anuncia a chegada para o bairro todo. Há grandes silêncios enquanto eles me contam essa história. Como se o amor que, no início, precisava de grandes anunciações, no tempo presente, permanecesse no silêncio. O silêncio confortável do amor que simplesmente fica, que está ali. Para o Carlos, o amor é a companhia. A Regina foi o amor que permaneceu.

Sobre quantas coisas é possível dizer que duraram 34 anos? O urso de pelúcia não durou, tampouco o Gol branco ou o restaurante onde comeram coelho na noite em que ficaram noivos.

O Carlos e a Regina, esse casal que anda de mãos dadas, mostra ao tempo que nem muito tempo é capaz de impedir que um sinta falta do outro.

A moça dizendo que se tornará freira, apoiada no balcão do bar na Squalidus, em 1985, é a mesma mulher a quem eu chamo de mãe. Ela olha para o quintal da casa onde mora com o meu pai desde o dia em que se casaram e me diz: se eu conhecesse o seu pai hoje, eu me casaria com ele novamente.

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Nesse momento, há um encontro entre os tempos traçados por esse casal. Uma linha percorrida pelo amor em um piscar de olhos. Qual o tempo do amor, eu me pergunto. Por enquanto, 34 anos, eles me respondem. Mas só por enquanto.

Quer contar sua história? Me mande uma mensagem no e-mail:
colunahistoriasdocoracao@gmail.com

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com