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Cotidiano & Existência

Recortes de infância

Leia o artigo desta semana da professora Gisela Breno

Por Gisela Breno

15 de setembro de 2020, às 07h00 • Última atualização em 21 de setembro de 2020, às 14h35

Minha avó Amábile, uma doce e forte italiana de pernas grossas e poucas palavras, tinha um método pouco ortodoxo para os dias de hoje para matar galinhas.

Munida de um cabo de vassoura botava a coitadinha no chão, ajustava o pau no pescoço da vítima e em seguida, para meu desespero, subia no dito cujo e só o deixava quando sabia que a pobrezinha havia sucumbido.

Como se não bastasse, a ave seria ainda depenada, jogada em água fervente e só depois de devidamente pelada, temperada.

Escondida e protegida por um pilar, eu assistia passivamente, inconformada e aos prantos a este ritual para rapidamente esquecê-lo no momento em que, encharcada num molho, a galinha era servida com macarrão nos inesquecíveis almoços familiares de domingo.

Imagino que bondosa cristã que era, nem passava por sua cabeça pedir perdão, nas missas de sábado que, religiosamente participava com fervor e com lindos tailleurs invariavelmente de cor escura, pelo ato que praticara.

Faleceu em 20 de agosto de 1991, coincidentemente no dia do aniversário de seu finado filho Carlos, meu pai, e dos três anos da morte de sua filha Josephina, minha madrinha. Diferentemente dela, hoje mesmo tendo leis que proíbem maus-tratos, o ser humano tem se revelado impiedoso com os animais inclusive de sua espécie.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.