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Cotidiano & Existência

Perdas

Estreando nesse blog, dedico esse texto aos homens que suavizaram minha existência

Por Gisela Breno

09 de junho de 2020, às 07h51 • Última atualização em 09 de junho de 2020, às 10h02

Na casa da minha vó Carmela, situada em frente à estação de trem de Americana, numa época em que muros não havia para protegê-la da ferrovia, conviviam além de tios e primos, galinhas, pombas, cabritos e um garboso cavalo.

Porque o tempo escorria vagarosamente, contava os dias nas mãos e no coração para que o domingo chegasse.

Minha mãe, então, arrumava caprichosamente suas filhas, pois além da viagem de trem de Sumaré a Americana, uma odisseia para meus olhos e coração, aconteceria o sonhado encontro com a família e os agregados.

Sempre apaixonada por gente e por outros animais, era, nessas ocasiões, para uma cabritinha branca, que recebeu de nós o nome simples de Bita, o meu primeiro abraço.

Lembro-me como se hoje fosse o dia em que para meu primeiro desencanto e tristeza sem fim, soube que ela tinha ido ao encontro de São Francisco de Assis, o protetor dos animais.

Meu pai, sensível como era, sabendo da importância e do valor dos rituais para a construção de nossa humanidade, fez uma cruz, azul, para ser um sinal eterno do amor e do cuidado que tivemos com aquele bichinho, enterrado por mim, minhas irmãs e meus primos, em meio a lágrimas.

Estreando nesse blog, dedico esse texto aos homens que suavizaram minha existência: Carlos, meu pai, Breno, meu companheiro de vida por 43 anos, meus tios Jessyr e Dica (Syrino Bianco) e aos 36 mil brasileiros que, ao contrário deles, não morreram com dignidade nem tampouco foram devida e amorosamente pranteados.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.