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Pelas Páginas da Literatura

Resenha: ‘A cabeça do santo’, por Socorro Acioli

Leia resenha de livro brasileiro que surgiu durante oficina de escrita de Gabriel Garcia Marquez

Por Marina Zanaki

23 de abril de 2022, às 08h05

A Cabeça do Santo

Um andarilho se esconde dentro de uma cabeça gigante de uma estátua de Santo Antônio, e lá dentro começa a escutar as preces das mulheres. Essa criativa premissa do livro “A cabeça do santo”, da cearense Socorro Acioli, surgiu durante uma das oficinas de escrita promovidas por Gabriel Garcia Marquez. A obra segue a tradição literária do realismo mágico, da qual Gabo é o maior expoente, mas tem uma identidade própria e escrita original.

A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli – Foto:

O livro acompanha Samuel, um jovem de Juazeiro do Norte (CE) que está vivendo o luto pela morte da mãe. Em seus últimos momentos, ela faz o filho prometer que vai até a cidade de Candeia encontrar o pai. É nesse município à beira da extinção que Samuel, na condição de morador de rua, se abriga sobre a cabeça da estátua que capta as orações feitas de forma íntima ao santo. Ao descobrir os segredos das mulheres dessa cidadezinha, ele começa a movimentar um comércio religioso e se torna um inesperado messias.

É muito interessante ver o realismo mágico aplicado ao nordeste brasileiro. Socorro Acioli mistura elementos regionais, religiosos e falcatruas na política aos acontecimentos mágicos da cidade de Candeia. Todos esses ingredientes resultam em uma história muito brasileira e envolvente.

Um dos aspectos mais interessantes é que a autora traz para dentro do livro uma história absurda (e verdadeira) da estátua de um santo que ficou sem cabeça em uma cidade real do Ceará, chamada Caridade.

Gostei especialmente da forma como Socorro caracterizou Samuel, revelando ao leitor suas vulnerabilidades e carências. Conhecendo sua trajetória, esperanças e decepções, é difícil não desenvolver empatia pelo personagem.

Apenas o final do livro fica aquém da expectativa. Após tanta criatividade e desenvoltura na trama, fiquei com a sensação que o encerramento da história poderia ter sido mais surpreendente. De qualquer forma, o livro tem um começo, meio e fim coesos entre si, e fica aqui a sugestão para conhecer essa curiosa obra nacional contemporânea.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.