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Papo Fermentado

É verdade que monges fazem cerveja?

Vem conhecer essa história que começou lá na Idade Média com os mosteiros e resultou numa das melhores cervejas do mundo

Por Papo Fermentado

29 de abril de 2021, às 08h30 • Última atualização em 29 de abril de 2021, às 08h31

É verdade sim e essas cervejas são consideradas umas das melhores do mundo! Tudo começou lá na Idade Média com os mosteiros e a capacidade dos monges fabricarem e registrarem suas receitas (além de serem consumidas nos períodos de jejum por ser uma bebida com muitos nutrientes), foi quando surgiram as cervejas de abadia.

Com o passar do tempo surge uma subdivisão católica de monges beneditinos chamada de “Ordem dos Cistercienses Reformados da Estrita Observância”.

Conheça mais sobre as cervejas trapistas – Foto:

Os monastérios onde esses monges vivem geralmente localizam-se em locais carentes e vivem o princípio de “ora et labora”, orar e trabalhar. Portanto, além de se dedicarem a vida de santidade, também fabricam chocolates, licores, pães, queijos, biscoitos, meles, geleias, azeite de oliva, vinhos, artigos religiosos e, claro, cerveja!

Para facilitar esse grande nome, a Ordem é chamada de Trapista, pois foi estabelecida no século XVII na abadia de La Trappe, na Normandia. Quem já ouviu falar sobre cervejas e monges trapistas? O produto mais conhecido são as cervejas e 14 das 21 abadias que fazem parte da Associação Trapista Internacional (ITA) fabricam e vendem suas próprias cervejas. Os equipamentos de alta qualidade e as excelentes instalações garantem a qualidade da bebida.

Mas não pense que toda abadia trapista possui o selo ATP em seus produtos, que é o Authentic Trappist Product, ou autêntico produto trapista. Para receber o selo ATP a abadia precisa cumprir três requisitos, que são:

  1. Todos os produtos devem ser feitos nas imediações da abadia;
  2. A produção deve ser realizada por um monge ou sob a supervisão de um;
  3. Os lucros devem ser destinados à comunidade, obras de caridade e manutenção do monastério.

A licença ATP é válida por cinco anos e é emitida para um único produto ou para uma categoria de produtos. Além de certificar a origem trapista, o selo também oferece aos consumidores a garantia de que os produtos correspondem aos valores e padrões de qualidade de uma comunidade trapista. Atualmente, 11 das 14 abadias possuem o selo.

Selo ATP na cerveja da abadia de Orval – Foto: Divulgação

Vamos conhecer quais são essas abadias? Acompanhe a leitura:

Abadia de São Benedictus (Achel, Bélgica) –

Não possui o selo ATP pois não há mais monges para supervisão. Está localizado na fronteira de Brabante do Norte (Holanda) e Limburgo do Norte (Bélgica). A abadia foi fundada em 1846 pelos monges trapistas de Westmalle, da qual depende inteiramente hoje. Produzem uma Belgian Blond Ale, uma Dubbel e uma semelhante a Belgian Dark Strong Ale.

Abadia de Nossa Senhora de Koningshoeven (Tilburg, Holanda)

A mais fácil de encontrar em supermercados. A abadia, atualmente, abriga monges trapistas que trabalham em várias indústrias artesanais, sendo a cervejaria a mais conhecida, a Koningshoeven B.V. Brewery, onde monges fabricam cerveja La Trappe Trappist desde 1884 e possuem 08 rótulos, sendo os mais conhecidos: blond, dubbel, tripel e quadrupel. Os monges também fazem queijos, chocolates, pão e mel orgânicos.

Abadia de Nossa Senhora do Sagrado Coração (Westmalle, Bélgica)

Foi fundada em 1794 e tanto a abadia quanto a cervejaria não são abertas ao público, mas possuem uma casa de hóspedes. A abadia é famosa por suas cervejas Westmalle Dubbel e Tripel que também são mais fáceis de encontrar em grandes redes de supermercados (também produzem um rótulo exclusivo para apreciação dos monges). Também fazem um queijo com o leite de suas próprias vacas.

Abadia de Scourmont (Chimay, Bélgica)

Foi construída em 1850 por um grupo de monges da Abadia de Westvleteren. Os monges vêm produzindo cervejas e queijos Chimay há mais de cem anos. Possuem cerca de cem funcionários, principalmente leigos da região, gerando oportunidades de emprego.  Produzem a Chimay Rouge (Dubbel), Blanche (Tripel), Bleue (Quadrupel, Grand Reserve (fermentada em barricas) e Dorée com 4,8% de teor alcoólico para consumo dos monges.

Orval Abbey (Orval, Bélgica)

A abadia tem uma fábrica de queijos artesanais desde 1928 e uma cervejaria desde 1931. Seu principal objetivo é garantir a manutenção do prédio e arrecadações para caridade. A cervejaria não está aberta ao público em geral, mas a parte histórica da abadia sim e também tem uma casa de hóspedes. Fabrica apenas um rótulo e que indicamos para todos provarem, possui presença marcante da Brettanomyces, uma levedura selvagem que confere aromas rústicos e complexos para a cerveja.

Abadia de Nossa Senhora de Saint-Remy (Rochefort, Bélgica)

Foi fundada em 1230 e foi destruída e reconstruída várias vezes. Os monges produzem a cerveja em conjunto com uma equipe de funcionários. A fim de proteger o caráter “silencioso” do mosteiro, a abadia não está aberta à visitação, no entanto os hóspedes são bem-vindos na casa de hóspedes e na igreja. Fabricam 04 rótulos: Rochefort 6 com 7,5% de teor alcoólico, Rocherfort 8 com 9,2%, Rochefort 10 com 11,3% e o mais recém lançamento, a Triple Extra com 8,1%.

Abadia de Sint-Sixtus (Westvleteren, Bélgica)

Fundada em 1831. Para adquirir uma das cervejas é preciso fazer reserva. Possui três rótulos: um de tampa verde que é uma Belgian Blond Ale, um de tampa azul que é uma Belgian Dubbel e um de tampa dourada que é uma Quadrupel (considerada por muitos a melhor cerveja do mundo). A abadia e a cervejaria de Sint-Sixtus não são abertas ao público, mas a abadia tem uma casa de hóspedes onde os visitantes podem ficar por vários dias.

Abadia de Maria Toevlucht (Zundert, Holanda)

Fundada em 1900 mas é desde 2013 que os monges fabricam a cerveja trapista Zundert. Na loja da abadia os monges também vendem CDs de música religiosa, livros que eles publicam e outros produtos. Possuem a Zundert 8 com 8% de teor alcoólico que assemelha-se a uma Dubbel a Zundert 10, uma Belgian Dark Strong Ale com 10% ABV.

Abadia de Stift Engelszell (Engelhartzell, Áustria)

Fundada em 1239. Os monges operam sua cervejaria e destilaria de licor. Também produzem mel de suas próprias abelhas e fazem bombons com Licor Engelszell. Possuem cinco rótulos de cervejas: Gregorius, Benno, Nivard, Weisse Hell e Zwickl.

Abadia de Mont-des-Cats (Godewaersvelde, França)

Não possui o selo ATP pois é produzida na Chimay. Fundada em 1826, produzem uma Belgian Dubbel com 7,6% de teor alcoólico. Eles confiaram à Chimay a produção da Mont des Cats. A abadia cobre as suas próprias despesas com a venda de cerveja e queijo e outra fonte de renda é uma pousada com 28 quartos.

Abadia de São José (Spencer, Massachusetts, EUA)

Em 1825, monges franceses fundaram o primeiro mosteiro trapista na América do Norte. Este grupo, que também incluía oito monges da Abadia de Westvleteren, cresceu e o mosteiro foi elevado à categoria de abadia em 1876. Após dois incêndios devastadores, a comunidade mudou-se para Spencer em 1950, onde fundaram a Abadia de São José. Os monges  fazem sua cerveja, geleia e outros produtos. O leque de cervejas é maior e possuem receitas inspiradas em estilos americanos e alemães.

Abadia de Tre Fontane (Roma, Itália)

Monges viveram e trabalharam nessa Abadia desde o século 10. Depois de 1870, os monges plantaram muitos eucaliptos ali para combater a malária. Desde 2015 eles têm uma cervejaria onde fabricam sua própria cerveja com aroma de eucalipto, uma Belgian Tripel com 8,5% de teor alcoólico. Também produzem azeite, vários tipos de mel, chocolate e licor.

Mosteiro de São Pedro de Cardeña (Burgos, Espanha)

Não possui o selo ATP na cerveja pois produz em uma fábrica na Espanha, possui apenas no queijo. Em 1948 tornou-se abadia cisterciense. Os monges trapistas fazem vinho de mesa, licor de ervas, queijo pecorino e chocolate. A cerveja é fabricada em Leone sob a responsabilidade da Abadia e é inspirada em uma Belgian Tripel.

Abadia do Monte São Bernardo (Leicestershire, Reino Unido)

Fundada em 1835. Possuem uma cervejaria recém-inaugurada. Em junho de 2018, eles lançaram sua primeira cerveja trapista no mercado. Escura, com utilização de cevada e lúpulos ingleses

Já sabia de toda essa história? Qual monastério você ficou com mais vontade de conhecer? O que mais temos vontade é o da Orval e a cerveja que mais temos vontade de tomar é a Westvleteren 12!

Saúde!

Papo Fermentado

Blog do casal Fernanda Brito e Bruno Martinelli, sommeliers de cerveja pelo Instituto da Cerveja Brasil. Amamos contar nossas experiências gastronômicas, a história que envolve a linha do tempo da cerveja e dicas para quem quer se aventurar nesse universo. Fale com a gente pelo ola@papofermentado.com.br ou WhatsApp (16) 99339-1221. Nas redes sociais, somos o @papofermentado.