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Histórias do Coração

Os dias em Buenos Aires

Demonstrar afeto, em Buenos Aires, é tão comum quanto caminhar por seus parques e avenidas

Por Carla Moro

17 de janeiro de 2022, às 08h18

Foi lendo sobre a cidade, que descobri que Buenos Aires é conhecida como “cidade verde”. Mesmo um breve passeio pelas suas ruas, já permitiria a qualquer viajante perceber que esse título é mais que merecido. Para todas as direções que olhamos, há uma praça com um gramado, diferentes tipos de árvores, bancos para que as pessoas se sentem e brinquedos para as crianças. Buenos Aires tem me parecido uma cidade para ser ocupada.

Todos os dias – mesmo durante a semana, no fim da tarde, é possível ver as famílias, os grupos de amigos e os casais habitando as praças, que mais parecem parques de tão grandes que são. As pessoas vão chegando com sacolas de comida, garrafa térmica e cuia para o mate, seus livros, bicicletas e seus cachorros (e são muitos deles, dos mais variados tamanhos e das mais variadas cores). Por conta do verão, o sol só se põe depois das oito horas da noite. Assim, há tempo de sobra para aproveitar o tempo que passa enquanto as pessoas se espalham pelos gramados.

Embora os espaços aqui sejam amplos, as praças-parque sejam imensas e as avenidas largas, as pessoas andam sempre juntas. Os casais, como eu contei na última coluna, também se aproveitam da grande quantidade de espaços abertos para demonstrações públicas de afeto. Demonstrar afeto, em Buenos Aires, é tão comum quanto caminhar por seus parques e avenidas.

A rua onde moro começa e termina com uma dessas praças-parque. Observando o ir e vir das pessoas, notei um casal de idosos que passa sempre pela minha porta. Eles caminham devagar e eu já encontrei com eles na praça no fim da rua, enquanto corria. O casal está sempre de mãos dadas. A senhora carrega uma sacolinha com comida, penso que com um lanche para o passeio, e o senhor vai levando um cachorrinho branco e peludo.

Na primeira vez que os encontrei, entendi que ele pedia a ela que esperasse. Meu quarteirão tem uma subida leve. Então, eles se sentaram em um banco em frente a um café antes de seguirem a caminhada. Ele ainda se apoiou no braço dela, para conseguir se sentar no banco que era um pouco baixo demais. Naquele dia, pensei na sorte que é poder envelhecer ao lado de quem a gente ama.

Depois desse casal, vi muitos outros também idosos pelos espaços públicos de Buenos Aires. Todos eles caminhando de mãos dadas, carregando sacolas ou garrafas térmicas e cuias para o mate, além de seus cachorrinhos. Buenos Aires tem me parecido uma cidade para ser ocupada, mas também para ser vivida. E vivida não só como os jovens que passam as madrugadas bebendo e rindo sentados no chão de paralelepípedos, mas também como o casal de idosos, que se dão as mãos e param um pouquinho quando a caminhada fica pesada.

Nesta “cidade verde”, de avenidas largas, espaços amplos e praças-parque imensas, é fácil se apaixonar. No mesmo texto que lia sobre a cidade, uma historiadora dizia que os argentinos transformam tudo em grandes paixões: pela comida, pelo futebol, pelos lugares. É isso que tenho visto todos os dias, em Buenos Aires – e talvez, também, porque eu já tenha me apaixonado.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com