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Estúdio 52

‘Os 7 de Chicago’ é drama histórico com enredo poderoso

Filme indicado a seis estatuetas do Oscar tem como cenário os protestos contra a Guerra do Vietnã em 1968, durante a convenção do partido Democrata

Por Diego Juliani

24 de abril de 2021, às 09h32 • Última atualização em 24 de abril de 2021, às 09h31

O ano é 1968 e a Guerra do Vietnã já estava em seu nono verão quando uma série de grupos contrários ao conflito partiram para Chicago com o objetivo de protestar. A cidade sediava a convenção do partido Democrata, evento que anunciou a candidatura derrotada (Richard Nixon foi eleito) de Hubert H. Humphrey à presidência.

As manifestações contra as políticas do então presidente Lyndon B. Johnson saíram do controle e houve tumulto e violência por parte dos envolvidos. Centenas de civis e policiais ficaram feridos e um seleto grupo de “cabeças” do movimento foi acusado, dias depois, de conspiração contra o país. “Os 7 de Chicago” (The Trial Of the Chicago 7, no original) traz uma narrativa desse evento histórico, e o julgamento dos líderes da manifestação é o cenário principal.

Julgamento dos líderes da manifestação é o cenário principal do filme – Foto: Niko Tavernise_Netflix

O drama histórico do diretor e roteirista Aaron Sorkin (“A Rede Social”), disponível na Netflix, traz um enredo poderoso que aborda o poder da persuasão, liberdade, democracia e desmandos governamentais, em um contexto que segue importante e que apresenta paralelos evidentes com a atualidade.

Desde o início, a falta de linearidade se mostra uma escolha correta para apresentar a história. E como já havia feito em “A Rede Social”, o diretor recorre aos flashbacks, movendo as peças com naturalidade e deixando o elenco brilhar.

E é dentro das paredes do tribunal que os atores carregam o peso das diferenças. De um lado os oito – que acabam se tornando sete – e seus ideais a valores. E do outro o sistema, repleto de nuances e interesses, retratado na figura do juiz Julius Hoffman, impecavelmente interpretado por Frank Langella.

Protestos em 1968 deixaram centenas de manifestantes e policiais feridos – Foto: Niko Tavernise_Netflix

Todos posicionados, Sasha Baron Cohen, na pele de Abbie Hoffman, e Tom Hayden, vivido pelo excelente Eddie Redmayne, roubam a cena. Hoffman, ao enveredar pela radicalidade e ironia, no cinismo exacerbado que repetidamente transcende os limites do aceitável para época e ocasião, e Hayden, na busca pela honradez e as condutas pacifistas, que ao longo da trama acabam desconstruídas.

O co-fundador do Partido dos Panteras Negras, Bobby Seale, também tem sua história destacada. Interpretado por Yahya Abdul-Mateen II, sua presença é essencial no desenrolar e deixa uma mensagem que segue contemporânea, sobre direitos e discriminação.

Yahya Abdul-Mateen II interpreta o co-fundador do Partido dos Panteras Negras, Bobby Seale – Foto: Niko Tavernise_Netflix

Na trilha sonora, Daniel Pemberton exalta as singularidades do drama, elevando situações e personagens quando necessário, principalmente nas cenas das manifestações e nos tumultos no tribunal.

Ficam destaques para a forte interpretação de Mark Rylance, como o advogado de defesa William Kunstler, e a ácida participação de Michael Keaton, como o ex-procurador geral Ramsey Clark. Por sua vez, Joseph Gordon-Levitt entrega um pouco inspirado e burocrático procurador Richard Schultz.

Eddie Redmayne (à esquerda) faz o papel de Tom Hayden, um ativista social contra a Guerra do Vietnã – Foto: Niko Tavernise_Netflix

“Os 7 de Chicago” é, como naturalmente deveria ser, sobre pessoas, suas ideias e a forma como defende-las pode afetar a sociedade. E, apesar da busca exagerada do diretor por um momento apoteótico de redenção – inclusive alterando a cronologia de fatos – algo que não seria necessário dada a importância já implícita do tema, o filme cumpre sua promessa e propósito de grandiosidade.

O longa foi indicado em seis categorias do Oscar – Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Sacha Baron Cohen), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, e Canção Original para “Hear My Voice”, de Celeste.

Maratona Oscar 2021

O Estúdio 52 termina neste sábado (23), véspera da premiação do Oscar 2021, a avaliação dos oito concorrentes ao prêmio de Melhor Filme. Confira os textos já postados:

– ‘Judas e o Messias Negro’ carrega história chocante e ótimas atuações

– Mesmo sem querer, ‘Mank’ é o filme mais complexo do Oscar 2021

– ‘Minari’ desmistifica a ideia do ‘sonho americano’ em meio a uma crise familiar

– ‘Nomadland’: um retrato sensível e pouco crítico sobre os novos nômades dos EUA

– ‘Bela Vingança’ é uma aula necessária sobre a cultura do estupro

‘Meu Pai’ é uma dolorosa jornada sobre deixar de ser quem você é

‘O Som do Silêncio’ proporciona uma experiência ímpar de imersão

Nota: 4,5 de 5

Diego Juliani

Editor do LIBERAL, está no grupo desde 2010. Fã de um bom cinema com pipoca, séries que não dão sono e saudosista dos games dos anos 90, o que já entrega sua idade.

Estúdio 52

Quer saber sobre aquela série que está bombando na internet? Sim, temos. Ou aquele jogo que a loja do seu console vai disponibilizar de graça? Ok. Curte o trivial e precisa dos lançamentos do cinema? Sem problema, é só chegar.