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Pelas Páginas da Literatura

‘Nós Somos a Cidade’, por N. K. Jemisin

Nesse livro de fantasia urbana, a cidade de Nova York ganha vida e assume a forma humana; leia a resenha

Por Marina Zanaki

14 de fevereiro de 2022, às 11h49 • Última atualização em 14 de fevereiro de 2022, às 11h50

Uma cidade é feita das pessoas que moram nela. Ao mesmo tempo, os moradores carregam um pouco do lugar onde moram. Essas ideias se tornam literais na fantasia urbana “Nós Somos a Cidade”, da escritora norte-americana N. K. Jemisin.

Nós Somos a Cidade – Foto: Divulgação

Lançada no ano passado pela Editora Suma, essa obra faz um retrato da cidade de Nova York. A trama parte da ideia que as cidades são conjuntos de seres humanos, e que podem evoluir até o ponto de se tornarem vivas. Mas esse nascimento não é simples ou pacífico, e as novas cidades enfrentam ameaças cósmicas para sobreviver.

Nesse livro, cada distrito é encarnado por um personagem. Conhecemos Manhattan, Brooklyn, Queens, Bronx e Staten Island, em uma mistura de raças e cores, tal como a cidade. Mas existe um sexto avatar, um jovem negro que vive nas ruas e é o todo de Nova York. Ele está ferido e precisa ser encontrado pelos demais distritos para salvar a cidade.

Em um primeiro momento, a leitura é confusa porque está usando palavras para narrar algo pouco palpável. Mas vencidos os primeiros capítulos, a obra te traga para dentro das páginas.  

O universo criado pela autora é muito original e vai além de um simples retrato de Nova York. Diversidade racial, preconceito, intolerância e ódio às minorias aparecem não apenas como meros elementos temáticos do livro. Eles são os próprios acontecimentos que fazem a trama andar.

Em “Nós Somos a Cidade”, não há redenção, arrependimento ou pedido de desculpas. Mesmo sabendo que esse é o primeiro livro de uma série, ainda acho que autora toma decisões muito corajosas – principalmente no que diz respeito ao distrito mais conservador de Nova York, Staten Island.

O universo criado pela autora nessa série, chamada “Grandes Cidades”, é muito criativo e abre inúmeras possibilidades. Os outros livros ainda não foram publicados e não faço ideia dos rumos que a história vai tomar, mas entendo que “Nós somos a cidade” tem seu próprio arco, com começo, meio e fim. Então recomendo a leitura mesmo para quem não esteja disposto a iniciar uma nova série de livros.

Outro motivo para ler o livro é que a autora merece ser conhecida. N. K. Jemisin foi a primeira escritora a vencer o prêmio Hugo de Melhor Romance por três anos consecutivos. Sua obra também ganhou os prêmios Nebula, Locus e Goodreads. O jornal The New York Times a definiu como a escritora de ficção científica e fantasia mais celebrada de sua geração.

“[…] o verdadeiro desastre é que Atlântida se tornou apenas uma história. Ela falhou tão catastroficamente que a raça humana inteira criou uma ramificação de realidades em que Atlântida nunca veio a existir”.

N. K. Jemisin em “Nós somos a cidade”
Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.