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Cotidiano & Existência

Mutações

Leia o novo artigo da professora Gisela Breno

Por Gisela Breno

24 de novembro de 2020, às 08h20 • Última atualização em 24 de novembro de 2020, às 08h21

Os vírus são seres atípicos. Sem células, muito pequenos, observáveis somente em microscópios eletrônicos, conseguem sobreviver apenas quando invadem células de outros organismos, sendo portanto todos parasitas.

Apesar de relativamente simples, podem provocar graves problemas de saúde na população; vide a pandemia causada pelo coronavírus.

Como possuem capacidade de se transformar, fico imaginando que dádiva seria para a humanidade se esse vírus, responsável pela morte de milhões de pessoas no Mundo, sofresse uma mutação e agisse sobre o lado direito do cérebro exacerbando nossa visão do todo, criatividade e nossa intuição.

Com graus mais elevados de sensibilidade, de consciência, compreenderíamos que somos seres singulares na Natureza, mas no âmago da nossa singularidade a totalidade imprimiu suas marcas.

Por isso feito polvo que se desloca majestosamente pelo ambiente, poderíamos lançar nossos tentáculos para abraçar sem distinção de cor, crenças, idade, classe social, nossos companheiros de viagem nessa travessia pela vida; como caracol abrigaríamos em nossa concha alguém que a perdeu nas rigorosas tempestades da existência; à semelhança dos ipês, sugaríamos a seiva da Terra para fazer desabrochar em nós flores cujos perfumes engravidariam de delicadezas aqueles que os aspirassem; com olhos de águia, enxergaríamos como Borges que “o tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo”; feito beija-flor espalharíamos em quaisquer ambientes pequenas poções de compaixão que suavizariam o clima de intolerância que se instalou no meio de nós.

Se assim acontecesse as máscaras tão necessárias nos dias de hoje, apenas cobririam parte de nosso corpo, pois nossa essência estaria exposta nos gestos, nos olhares, nas palavras, nas atitudes de todo ser humano verdadeiramente humano.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.