28 de março de 2024 Atualizado 20:58

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Histórias do Coração

Luzia e Heitor

Casal trabalhava na Fábrica de Tecidos Carioba, na região da Fazenda Salto Grande, e se conheceu fazendo praça, como se costumava dizer

Por Carla Moro

24 de janeiro de 2021, às 10h18 • Última atualização em 24 de janeiro de 2021, às 10h19

Luzia e Heitor trabalhavam na Fábrica de Tecidos Carioba, fundada em 1895, na região da Fazenda Salto Grande. Em 1901, a fábrica foi leiloada e vendida à família Müller, de origem alemã.

A Vila Operária, onde moravam os funcionários da fábrica, tinha uma entrada bonita formada por um túnel de bambus. Quem chegava à Vila podia ver as casas construídas em estilo alemão de telhados com caída para neve, embora nunca se tenha tido notícia de neve por essas bandas.

Luzia e Heitor – Foto: Arquivo Pessoal

O nosso casal se conheceu fazendo praça, como se costumava dizer. Os jovens passeavam pela Vila, dando voltas no jardim e no coreto. Moças de um lado, moços de outro. Aqueles que se aventuravam a parar no meio do caminho já tinham avistado o amor do outro lado da praça. O amor é mais fácil de ser encontrado quando se sabe onde procurar.

O Heitor tinha vindo de Mogi Guaçu e a Luzia, de Araras. Como tantos outros, mudaram-se para Carioba junto de suas famílias atraídos pelo crescimento econômico da região. A Vila tinha asfalto, luz elétrica, água encanada, cinema e escola.

Leia outras histórias da coluna aqui

Foi em uma noite de Natal que o Heitor convidou a moça de semblante sério e suas amigas para tomarem champagne. A Luzia não bebia, mas foi mesmo assim. Quando o Heitor se ofereceu para levá-la até em casa, ela não aceitou. Atravessou sozinha a Vila, correndo pelo jardim já tarde da noite. No fim da década de 1940, era preciso correr um pouco do amor antes de ter certeza de que ele tinha mesmo vindo para ficar.

O casamento aconteceu em junho porque o noivo tinha pressa. A Luzia queria se casar em setembro, mas naquele mesmo mês já se casariam outras três moças da família. Ela sugeriu dezembro, mas ele argumentou que dezembro estava muito longe. Casaram-se no fim da tarde do dia 30 de junho, quando já escurecia, para desgosto do padre da Igreja de Carioba, que não gostava de celebrações no escuro.

A festa foi no salão da Sociedade Mútuo-Socorro, ao lado do grupo escolar. A noiva fez o bolo. Com galhos secos, fez também uma árvore de balas, com papel cortado um a um junto com suas primas.

A família Abdalla, em 1944, cinco anos antes do casamento da Luzia e do Heitor, havia comprado a fábrica da família Müller. Com a Segunda Guerra Mundial e a política econômica do Governo Getúlio Vargas, Carioba já começava a vivenciar seu declínio. Mas após a festa, o casal foi morar em uma casa cedida pela família Abdalla aos operários da fábrica. Ali, nosso casal viu o início de sua própria família, até mudarem-se definitivamente para Americana em 1957.

Carioba, em tupi, significa pano branco, tão branco como a neve que nunca caiu nos telhados de estilo alemão construídos na Vila Operária pela família Müller. Ou, ainda, pano branco tão branco como as flores de laranjeira do buquê e da grinalda que a Luzia mandou fazer em Araras. Mas, talvez, não tão branco quanto o vestido de cetim duchese usado pela noiva naquele início de noite em junho de 1949.

O amor, me conta a Luzia, é aquilo que nunca se perdeu. O que seria de Carioba não fosse a sua história que nunca se perdeu? O que seria do amor não fosse a Luzia e o Heitor para vivê-lo?

Quer contar sua história? Me mande uma mensagem no e-mail:
colunahistoriasdocoracao@gmail.com

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com