A tentativa do presidente Jair Bolsonaro de esconder dados sobre o número de contaminados pelo novo coronavírus (Covid-19) é mais uma atitude irresponsável de um governo que dá mostras diárias de como não lidar com uma pandemia que já matou mais de 36 mil brasileiros em menos de seis meses.

A maquiagem dos números ganhou força a partir de quarta-feira, quando o País bateu recorde de mortos em 24h. Na ocasião, o Ministério da Saúde alegou “problemas técnicos” e divulgou as estatísticas apenas às 22h. Até então, a divulgação ocorria até as 19h. No dia seguinte, após novo recorde de mortes, os dados novamente foram divulgados após as 22h – ontem, a pasta informou que voltará a fazer divulgações regulares a partir das 18h.

Questionado sobre o porquê do número de casos e mortes passar a ser divulgado mais tarde, Bolsonaro não confirmou que a ordem partira dele, disse que o novo horário permitia dados mais consolidados e comentou que, agora, não haveria mais matéria no Jornal Nacional.

Na sexta-feira, o Ministério da Saúde retirou do site em que mantinha atualizado diariamente os dados oficiais de casos da doença no País. No sábado, a página voltou ao ar, mas com omissão de parte das estatísticas, omitindo a soma dos casos desde o início da pandemia.

A atitude do governo é mais uma que vai na contramão do trabalho diante desta ameaça global, uma medida que só encontra semelhanças em regimes ditatoriais e que tem apoio apenas da claque bolsonarista. Além disso, a manipulação dos dados atenta contra a transparência e o trabalho de pesquisadores e da imprensa.

Esta última, cujo trabalho parece ser o real motivo das medidas opacas de Bolsonaro, reagiu à altura e, numa iniciativa inédita, fez unir os principais jornais e sites de notícias do País para buscar, compilar e disponibilizar ao cidadão os dados completos sobre a pandemia no Brasil. Um direito que não pode ser tolhido pela ideologia.