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O Caixeiro Viajante

‘Love Card’, o cartão do amor

Como uma base aérea americana mudou o cotidiano de Natal, no Rio Grande do Norte, nos anos 40

Por Oswaldo Nogueira

04 de agosto de 2024, às 10h07

Em 1940, com o início da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos solicitaram ao governo brasileiro a autorização para instalar uma base aérea em Natal, Rio Grande do Norte. A escolha da localização se deu devido a sua proximidade com a África Ocidental, essencial para o abastecimento das tropas aliadas que combatiam na Europa.

Naquele momento, Getúlio Vargas e os militares brasileiros demonstravam simpatia pela Alemanha, acreditando que a potência europeia era imbatível, especialmente após a rápida vitória sobre países como a França, cujo exército era considerado um dos mais poderosos do mundo. Diante da indecisão brasileira, os Estados Unidos enviaram três aviões, cada um transportando 50 fuzileiros navais fortemente armados. Os aviões pousaram em Belém do Pará, Natal e Recife, o que gerou uma grave crise diplomática devido à presença de militares estrangeiros armados em território nacional.

A situação provocou um debate interno entre os militares brasileiros, com alguns sugerindo a possibilidade de confrontar os fuzileiros navais e outros alertando para o risco de uma declaração de guerra pelos Estados Unidos. No entanto, a decisão final foi de bom senso, e a instalação da base aérea foi autorizada, transformando-a na maior base aérea fora dos Estados Unidos.

Em Natal, foram construídos alojamentos para 10 mil soldados fixos e 30 mil soldados em trânsito, além de um hotel, depósitos de combustíveis, radares, um cinema e até uma engarrafadora da Coca-Cola. O aeroporto se tornou o mais movimentado do mundo, com uma média de 600 pousos e decolagens diárias. A base recebeu visitas ilustres, incluindo o presidente Roosevelt e sua esposa Eleanor, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e até artistas de Hollywood a caminho da Europa.

A presença militar americana trouxe um grande crescimento econômico para Natal, com a entrada de dólares e a introdução de novos hábitos. Os soldados frequentavam as belas praias e os cabarés do bairro da Ribeira. Maria Boa, famosa por seu cabaré em João Pessoa, transferiu seu estabelecimento para Natal devido à alta demanda. No entanto, o aumento de visitas aos cabarés também provocou um crescimento nas doenças venéreas, gerando preocupação no serviço médico. Foram então implementadas campanhas de prevenção, com a distribuição de preservativos e materiais de higiene, e os estabelecimentos que seguiam as normas recebiam o “Love Card”, enquanto os que não seguiam eram fechados pela polícia militar.

Após o término da guerra, a base foi desativada, mas as instalações permanecem em Natal até hoje. Além disso, 32 brasileiras casaram-se com soldados americanos e se mudaram para os Estados Unidos.

Oswaldo Nogueira

Empresário e ex-vereador de Americana, escreve sobre temas do cotidiano com o objetivo de ser uma fonte de provocação e reflexão para os leitores; coluna quinzenal