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Pelas Páginas da Literatura

Lançamento 2021: ‘A Palavra que Resta’, de Stênio Gardel

Um idoso tenta se alfabetizar para conseguir ler uma carta que guardou por toda a vida, escrita por seu namorado da juventude

Por Marina Zanaki

15 de julho de 2021, às 09h07 • Última atualização em 15 de julho de 2021, às 09h10

Um homem na casa dos 70 anos começa a frequentar a escola para aprender a ler e escrever. A busca por esse aprendizado é movida pelo desejo de finalmente conseguir ler uma carta que ele guardou durante 50 anos, escrita por seu namorado da juventude.

A Palavra que Resta – Foto: Divulgação

Essa sinopse instigante é do livro “A palavra que resta”, estreia do cearense Stênio Gardel e lançado no primeiro semestre pela Companhia das Letras. O escritor usa uma escrita poética para contar a história de Raimundo, um homem gay que enfrentou muitas violências físicas e psicológicas ao longo da vida.

O romance escondido de Raimundo com o amigo Cícero durante a adolescência tem um fim abrupto quando eles são flagrados, e as relações familiares dos dois sofrem um forte abalo. O machismo e a homofobia no sertão cearense de décadas atrás deixaram profundas cicatrizes em Raimundo, que sente na pele a rejeição das pessoas que mais ama no mundo.

O livro tem alguns trechos escritos com linguagem diferenciada. Por vezes, parece um fluxo de pensamento de quem recorda o passado. Em outros, remete a uma pessoa que está aprendendo a ler. Vi em resenhas que muita gente não gostou dessa escolha estilística, mas eu avalio que se justifica e torna o livro mais interessante.

As personagens também são bem compostas, com profundidade e complexidade. Destaque especial para a amiga de Raimundo, a transexual Suzzanný, que apesar das constantes violências que sofre, não se limita a um estereótipo de vítima da sociedade.

Fica a forte recomendação para esse livro, que aborda temas muito importantes e é uma ótima oportunidade para conhecer um escritor contemporâneo do Brasil.

“Esticador de horizontes, a professora Ana explicou que na poesia uma palavra diz muito mais do que diz, é a palavra que se estica então, isso sim, onde a palavra sozinha não vai, com a poesia vai (…)”, Stênio Gardel no capítulo “Poente” de “A palavra que resta”.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.