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Pelas Páginas da Literatura

Lançamento 2021: ‘Klara e o Sol’, por Kazuo Ishiguro

Primeiro livro lançado após o autor ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, “Klara e o Sol” acompanha a vida de uma robô; leia a resenha

Por Marina Zanaki

30 de junho de 2021, às 11h10 • Última atualização em 30 de junho de 2021, às 14h38

Primeiro livro lançado pelo nipo-britânico Kazuo Ishiguro depois de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, “Klara e o Sol” vinha carregado de expectativas. A obra tem seus momentos belos e profundos, mas no geral não atingiu o que se esperava do autor da obra-prima “Vestígios do Dia”.

‘Klara e o Sol’: novo livro do ganhador do Prêmio Nobel Kazuo Ishiguro – Foto: Divulgação

Klara é um AA – Amigo Artificial – que é comprada pela família de Josie, uma menina de 14 anos que sofre com uma doença. O papel da robô é contribuir com a felicidade da garota e não permitir que ela sinta solidão. Basicamente, é a inteligência artificial à serviço dos desejos humanos.

O autor vai deixando pistas sobre o funcionamento dessa sociedade. Aos poucos, o leitor descobre que as pessoas podem passar pela “elevação”, uma melhoria por meio de reprogramação genética. O processo, porém, não é acessível a todos e oferece riscos.

Criando diferentes castas, entre seres humanos elevados, pessoas normais e robôs, Ishiguro se aproxima tematicamente de “Não me abandone jamais”. Contudo, passa longe da alta qualidade de sua obra anterior.

O novo livro é contado pelo olhar de Klara, uma robô altamente eficiente e, ao mesmo tempo, marcada por traços ingênuos. Em entrevistas, Ishiguro contou que a ideia dessa disparidade o encantou e que buscou explorá-la no livro. A obra, inclusive, se vende como uma oportunidade de observar “o mundo moderno pelos olhos de uma narradora inesquecível”.

Kazuo Ishiguro é ganhador do Prêmio Nobel de Literatura – Foto: Cia das Letras / Divulgação

Pessoalmente, acho que o ponto fraco da história está justamente nesse olhar infantilizado de Klara, que acredita ser possível, por exemplo, fazer um acordo com o Sol e destruir a poluição. O livro também cria algumas oportunidades interessantes, mas que acabam sendo abandonadas pelo escritor.

A obra tem seus momentos tocantes. O primeiro capítulo, por exemplo, nos apresenta à vida de Klara na loja de Amigos Artificiais. Nesse ambiente, todos aguardam seu momento para ficar na vitrine e torcem pela oportunidade de serem escolhidos por uma criança. Achei as primeiras páginas muito promissoras, principalmente pelas abordagens das emoções humanas pelo olhar de Klara. Contudo, isso não se desenvolve com a mesma qualidade ao longo do livro.

A cena final também é impactante. Sem dar spoiler, posso dizer que Klara tem um saldo positivo de sua trajetória como AA, o que dá ao leitor a dimensão de quanto a vida de um robô nesse universo pode ser horrível.

Talvez “Klara e o Sol” seja lembrado como um livro menor de Ishiguro. Mesmo ficando desbotado perto de suas outras histórias, ainda assim não ofusca o brilhantismo de sua obra.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.