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Pelas Páginas da Literatura

Lançamento 2021: ‘As Inseparáveis’, por Simone de Beauvoir

Texto da filósofa francesa que permaneceu inédito por 67 anos chega ao Brasil pela Editora Record

Por Marina Zanaki

01 de maio de 2021, às 08h07

Para ter um pouco de paz, uma moça provoca em si mesma um acidente com um machado, ferindo o pé e por pouco não perdendo um dedo. Como resultado, conseguiu ter alguns dias de descanso longe das obrigações.

As Inseparáveis: novo livro da autora e filósofa Simone de Beauvoir – Foto: Divulgação

Essa cena do livro “As inseparáveis”, de Simone de Beauvoir, me impressionou muito. Creio que ela resume bem o espírito da obra: a história de uma mulher tão sufocada pela condição de gênero que está perigosamente flertando com a autodestruição.

Na obra, que ficou inédita por mais de seis décadas e sai agora no Brasil pela Editora Record, a amiga de infância da filósofa francesa Simone de Beauvoir (Zazá na vida real, Andrée no livro) é retratada como uma mulher genial. Muito mais inteligente que Simone, é também irreverente, ousada e rebelde. Todas essas qualidades despertam o amor de Simone, no romance batizada de Sylvie.

Contudo, esse espírito livre vai aos poucos sendo podado e moldado às expectativas da família. Andrée não pode continuar os estudos, não pode escolher com quem se relaciona, não tem tempo para si mesma, e no fim será apartada de toda sua vida por meio de uma viagem que não deseja, mas que é obrigada a fazer para cumprir com seus deveres.

É nesse contexto que parece razoável a Andrée um ato tão radical quanto cortar o próprio pé para conseguir um breve momento de paz. Ferida, ela volta a se reconhecer.

Obra de Simone de Beauvoir permaneceu inédita por 67 anos no Brasil – Foto: Wikimedia Commons

“As inseparáveis” conta a história de duas mulheres que tiveram as linhas de suas vidas afastadas para sempre. Essa perda, contudo, marcaria toda a produção literária, filosófica e política de Simone de Beauvoir.

De certa forma, Zazá foi preservada nesse pequeno livro. É comovente pensar que, apesar de não ter sido publicado pela autora em vida, foi datilografado por ela e guardado a sete chaves até que pudesse vir ao mundo.

“Se esta noite tenho lágrimas nos olhos, será porque você está morta ou porque estou viva?”, Simone de Beauvoir, na dedicatória de “As inseparáveis”.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.