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Histórias do Coração

João e Guilherme – Primeira parte

A história do coração de hoje é a do primeiro momento, quando ainda ninguém sabia que era amor ou tampouco uma história

Por Carla Moro

11 de julho de 2021, às 15h46

Esta história começou em 2008, em uma cidadezinha do interior de São Paulo, mas que ainda não era Americana. Americana mesmo só vai aparecer na segunda parte, que ficará para domingo que vem. João e Guilherme têm uma história construída em dois momentos separados por um intervalo de muitos anos. Do mesmo modo que eles esperaram, esperaremos também.

A história do coração de hoje é a do primeiro momento, quando ainda ninguém sabia que era amor ou tampouco uma história. Quando o João enviou um correio elegante para o Guilherme na festa junina da faculdade, nenhum dos dois previu ou esperou pelo amor. O Guilherme, aliás, quase perdeu o bilhete enquanto pegava mais uma bebida.

Naquele dia de 2008, não só era dia de São João, mas também aniversário do João. A mãe, devota, havia feito uma promessa ao santo depois de um parto difícil. Por superstição, o moço acreditava que apenas coisas boas poderiam acontecer no dia em que ele tinha nascido. Mas de tudo o que era bom, nada se comparava à imagem do Guilherme, que ele viu logo que chegou à festa junina.

O Guilherme não tinha nome de santo e, da festa, gostava mesmo era da bebida. Ele fazia parte da Atlética e nem pensava em encontrar um amor numa terça-feira, fim do penúltimo semestre. Quando o correio elegante foi entregue, não deu muita importância. Foi um amigo que avisou: “Olha, você deixou cair o bilhete”.

Um quadradinho de papel de 5×5 cm não podia dar conta do que o João queria dizer, e não dava. Não dava conta da vontade e da ousadia do moço com nome de santo e que fazia aniversário no dia da última festa do semestre. Ainda assim, ele mandou o correio elegante. O primeiro, e único, que escreveria na vida. Com o papel apoiado na parede da cantina, escreveu: “O seu xadrez combina com o meu. Vou estar ao lado da cadeia, às dez da noite”.

Enquanto me contam essa história, o Guilherme tira da carteira o papel dobrado em quatro partes. O bilhete que ele quase perdeu está há 13 anos guardado ali, dentro do bolsinho de moedas. Naquela noite de São João, antes de esperar ao lado da cadeia como o correio elegante pedia, ele dobrou o quadradinho de papel de 5×5 cm, não perderia novamente. Não perderia nem nos anos que se seguiram, enquanto o João era apenas uma lembrança muito doce do último ano de faculdade.

Parado ao lado da cadeia, o coração disparado podia ser consequência já da grande quantidade de álcool ingerida ou mesmo do frio naquela noite. O Guilherme, rindo, me conta que não queria admitir para si mesmo a expectativa. Disfarçava a ansiedade dando um gole na cerveja. A cerveja era boa, a festa era boa, mas nada era tão bom quanto a imagem do João chegando com uma camisa xadrez de flanela vermelha.

“Eu ainda tenho essa camisa”, me fala o João, como se o amor precisasse desses amuletos para resistir ao tempo. Mas esse é só o primeiro momento: ainda demoraria dez anos para que eles se reencontrassem e pudessem contar a história que começo, hoje, a contar a vocês.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com