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Alessandra Olivato

Homenagem II

Se eu tivesse que elencar o que eu mais desejo para todas as mulheres é que elas conheçam acima de tudo o seu valor

Por Alessandra Olivato

09 de março de 2022, às 09h22 • Última atualização em 09 de março de 2022, às 09h24

Relutei bastante em escrever algo em homenagem às mulheres porque tudo o que podia ser dito – de bom, de verdade e também de ilusão já foi dito. Também já se filosofou muito sobre a pertinência de haver um dia a comemorar ou não. Como tudo é relativo do ponto de vista da razão, vou seguir o coração.

Em primeiro lugar e acima de tudo, parabéns a todas que pariram todos os seres humanos existentes nesse planeta. Que, querendo ou não, gostando ou não, sentindo-se bem ou não, tendo depressão ou não, tendo condições financeiras ou não, se dispuseram à missão de dar à vida. Claro, parabéns também a todas as que não são ou foram mães porque, embora não tenham dado à luz, guardam em si o instinto maternal de cuidar do outro. Por falar nisso, parabéns a esses seres que se preocupam com o outro praticamente desde que se conhecem por gente. Às milhares que, por cuidarem tanto do outro, não sabem há anos o que é passar um batom ou cuidar do seu cabelo.

Parabéns a todas que tem uma jornada de trabalho integral em casa, ou dupla jornada, ou tripla. Ou até mais. A todas que após uma um dia puxado de trabalho só vão se sentar duas, três, quatro horas depois, após terem alimentado seus filhos, perguntado ao marido como foi o dia, feito a janta, recolhido o lixo, de terem ajudado o filho com a lição de casa, terem recolhido as roupas do varal e que só vão dormir depois de checarem se o filho ou a filha estão respirando no quarto ao lado.

Parabéns a todas que sabem o que é aguentar um longo dia ou uma festa em cima de um salto que está moendo os pés só pra manter a pose. Parabéns a todas que são traídas e perdoam seguidas vezes em nome de um sentimento verdadeiro. Que suportam vícios por anos a fio em nome da esperança. Parabéns a todas as mulheres que fizeram e se adaptaram às incontáveis mudanças nas últimas décadas, aprendendo a votar, a ter opinião própria, a trabalhar fora de casa, que se aventuraram a ser menos dependentes dos homens ou de outras pessoas, que foram exemplos para outras, que abriram caminhos.

Parabéns a todas que escolheram seguir as regras do arquétipo feminino por livre e espontânea vontade e a todas que escolheram o contrário, pelo mesmo motivo. Parabéns a todas que por amor ao esporte abrilhantam as competições mundo afora, superando sua aparente fragilidade física. Parabéns a todas as engenheiras, arquitetas, advogadas, médicas, políticas, diretoras e presidentes de empresas por saberem dia-a-dia o que é ser reconhecida em esferas majoritariamente masculinas. Parabéns a todas as cozinheiras, enfermeiras, cuidadoras e esteticistas e milhares de outras por sustentarem suas famílias mesmo sem o mesmo reconhecimento das primeiras por viverem num mundo que valoriza muito o poder e o status (Segundo dados oficiais, quase metade das residências hoje, no brasil, são sustentadas por mulheres). Parabéns a todas essam que assumiram o papel de pessoas que não o fizeram.

Parabéns a todas as que, por valorizarem a profissão mesmo sem esquecerem de cuidar dos seus, é chamada de egoísta. Parabéns a todas que por terem opinião própria são classificadas como chatas ou arrogantes. Parabéns a todas que sabem por intuição e por sabedoria feminina e são chamadas de loucas. Aliás, parabéns a todas as loucas que, sobrecarregadas ao limite, chegam no dia do basta.

Parabéns às milhares de mulheres chegando na “terceira idade” e que solitariamente estão reinventando seu mundo, sua vida, sua identidade da melhor forma possível num mundo que vira as costas para os mais velhos e idosos. Parabéns a todas as mulheres na menopausa, pelo enorme autodomínio de não matar ninguém mesmo no auge de uma terrível oscilação hormonal. Parabéns a todas as mulheres que com dores ou não, de saco cheio ou não, com todas as dúvidas do mundo também entendem que colocar a comida no prato do marido pode ser apenas uma forma de amor e carinho e não algo que as diminua.

Isso tudo e nada de novo posto, se eu tivesse que elencar o que eu mais desejo para todas as mulheres é que elas conheçam acima de tudo o seu valor. Que as que ainda se estão na fase da criança perdida (legitimamente ou não) possam se encontrar, crescer, amadurecer e serem protagonistas de suas vidas. Que, pelo amor do senhor, deixem o excesso de carência de lado. Que também parem de mimimis desnecessários e que saibam quais bandeiras valem mesmo a pena carregar. Que saibam, de uma vez por todas, o quanto o mundo todo deve a elas, sem esquecer de valorizar os demais que as apoiam e acompanham. Que consigam se manter equilibradas num mundo que em boa parte esqueceu que, não obstante a nossa força e inteligência, ainda somos feitas de sensibilidade, delicadeza, carinho e afeto. Que possamos ter ainda um mundo em que não tirem isso de nós.

Alessandra Olivato

Mestre em Sociologia, Alessandra Olivato aborda filosofias do cotidiano a partir de temas como política, gênero, espiritualidade, eventos da cidade e do País.