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Histórias do Coração

Lara e Patrícia

Na tarde fria de agosto de 2019 em que casaram, elas disseram a todos ali presentes quem eram: duas mulheres que se amavam

Por Carla Moro

18 de abril de 2021, às 09h34

Um casal decide se casar pelos mais variados motivos: para poder morar juntos, para ter mais liberdade, para poder se mudar de país ou para poder ficar onde está. O casamento já foi um contrato entre famílias, um acordo entre reis com motivação territorial. Um casal também se casa por amor, mas esse é um motivo recente quando pensamos na História da Humanidade. As pessoas se casam, sobretudo, porque podem.

Qualquer pessoa maior de 18 anos pode se casar, porque o casamento é um direito civil, independentemente dos motivos para que ele aconteça. Quando a Lara e a Patrícia se casaram em um fim de tarde frio de agosto de 2019, elas exerciam um direito, e o amor, e apenas o amor, era a motivação.

Lara e Patrícia – Casamento em 3 de agosto de 2019 – Foto: Arquivo pessoal

Não é possível separar o sujeito de sua história. Aquilo que se é determina o modo como a vida de cada um acontece. A história da Lara e da Patrícia só podia ser vivida por elas, por mais ninguém, e de nenhum outro jeito que não este, que vou contar agora. Elas se conheceram em 2012, como me confirmou a Paty, porque a Lara tinha dito 2008 (ela não é boa com datas). Era um churrasco de amigas em comum e, naquele dia, elas pouco conversaram. Quatro anos se passaram para que elas chegassem ao momento em que essa história começa.

Em um sábado de janeiro de 2016, as duas saíram por insistência das amigas. Encontraram-se na casa de uma delas e foi preciso apenas aquele instante em que elas se olharam para que soubessem. “Para as outras pessoas que estavam em volta, deve ter sido muito rápido”, me conta a Paty, “mas pra gente foi uma eternidade”. A eternidade é um tempo que não tem começo nem fim, por isso temos a sensação de que o tempo para. Nem todas as pessoas têm a sorte de viver, mesmo que por um segundo, a eternidade.

Não fosse clichê e não seria amor. Amor pequeno, não é amor. Não é possível sentir pouco, não é possível sentir menos. Na festa em que estavam, a Paty perguntou para a Lara se podia lhe dar um beijo. A Lara não respondeu, mas o beijo aconteceu. Em poucos meses, elas já moravam juntas, e o casamento levou dois anos para ser planejado. A Paty pediu a Lara em casamento, com música, flores e o pedido escrito no espelho do apartamento em que moravam juntas. Dessa vez, a Lara respondeu.

No momento em que se casaram, em uma tarde fria de agosto de 2019, elas disseram a todos ali presentes quem eram: duas mulheres que se amavam e, se amando, que desejavam passar o resto da vida juntas. Querer ser o que se é, é um desejo. Poder ser aquilo que se é, é um direito. Naquele dia, elas puderam ser. Ser para que não restassem dúvidas, nem para elas, nem para os outros.

O amor, assim como o casamento, é um direito de todos, e deve ser vivido por aqueles e aquelas que assim o desejarem. Em 2029, quando completarem dez anos de casamento, a Lara me diz que será a sua vez de pedir a Patrícia em casamento. É uma promessa. O casamento é feito de promessas, mas também do desejo de cumpri-las. E a motivação para esse desejo só pode ser o amor, e apenas o amor.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com