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Histórias do Coração

Bruna e Marcos

A história deste domingo fala sobre o poder da expectativa, afinal é ela que pode determinar o tamanho do futuro

Por Carla Moro

03 de outubro de 2021, às 07h52

Muitas histórias que começaram em sites de relacionamento têm aparecido por aqui. Algumas delas terminaram em casamento; outras, nem chegaram a começar. Suponho que sejam um reflexo dos nossos tempos as relações que começam e terminam rápido. Longe de ser uma crítica, os relacionamentos amorosos têm se transformado conforme também se transforma a sociedade, é um movimento inevitável.

Marcos tinha grandes expectativas quando viu a foto da Bruna em um aplicativo. Ela era ruiva e usava óculos. Também dizia gostar de viajar, ler e correr, como ele (e como outras milhares de pessoas nesta cidade). Marcos torceu para que a Bruna também reparasse nele. Quando um encontro depende da atenção de um deslizar de dedos na tela do celular, os desencontros podem ser mais comuns do que gostaríamos.

Eu poderia trazer aqui alguns dados que comprovam a eficácia dos aplicativos de relacionamentos. Uma vez, um amigo me disse que contra os números, não há argumentos. Concordo com ele, mas também acho que é muito difícil falar em estatística quando falamos de amor. Estatisticamente, nesta coluna, amores que começam em sites de relacionamentos dão certo.

Começaram a conversar sobre livros: ela lia best-sellers, ele gostava mais dos clássicos; sobre viagens: ele tinha feito trabalho voluntário em outro país, ela passava todas as férias em Nova York. Mas ainda restava a corrida. As expectativas do Marcos eram tão grandes, que ele se apegou ao mínimo. Quando marcaram o primeiro encontro, o rapaz já imaginava que aquele poderia ser o início de uma grande história de amor.

Não saberemos das expectativas, ou dos sentimentos, da Bruna. Esta história do coração é totalmente parcial. Saberemos apenas o que ela disse ao Marcos no primeiro encontro, em um restaurante bonito ali perto do Jardim Botânico.

As estatísticas desta coluna estão a favor das expectativas do Marcos. Após aquele encontro, certamente seguiriam se vendo. Poderiam marcar viagens aos fins de semana ou uma mais longa, já que suas férias estavam chegando. Ele corria às segundas e quartas às seis da manhã. Certamente correriam juntos. Se ela não fosse tão rápida, ele poderia diminuir as passadas para esperar por ela. Também planejariam juntos os passeios às livrarias. Ele poderia mostrar para a Bruna seus autores preferidos. São as expectativas, percebam, que determinam o tamanho do futuro.

Não é o tempo que as relações duram que indica a intensidade dos sentimentos nem, tampouco, o tamanho das expectativas das pessoas envolvidas. Também não é o modo como o amor começa – em um parque ou em um site, que indica o seu sucesso ou o seu fracasso.

Depois de pedirem um vinho, a Bruna achou melhor deixar claro que não buscava um relacionamento sério. Desculpa, ela disse, mas, no momento, estou super focada no meu trabalho e no meu mestrado. Tudo bem pra você? O Marcos deu um gole no vinho e respondeu que sim, claro. Ele também não buscava um relacionamento quando entrou no aplicativo. Aliás, quem acredita que qualquer coisa séria pode começar ali? Riram. Depois, beberam, conversaram sobre livros, viagens e corridas e nunca mais se encontraram.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com