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Histórias de Americana

Fiat Lux

Por Elizabete Carla Guedes

05 de agosto de 2019, às 09h22 • Última atualização em 19 de maio de 2021, às 15h16

Professores em Americana em imagem de 1925 - Foto: Divulgação

Nota do editor: texto atualizado em 18 de maio de 2021

As primeiras citações de estabelecimentos de ensino encontradas na historiografia oficial da cidade de Americana são de escolas situadas nos núcleos rurais. No ano de 1883, encontramos publicações que fazem referência à filha de Jorge Wilmont como encarregada da alfabetização na Villa Operária de Carioba, porém, sem citar seu nome. Posteriormente, o Sr. Scarazzato, em 1890, imigrante italiano e que já exercia a função de professor em sua terra natal, muda-se para a Fazenda Salto Grande, onde continua atuando no ensino primário, ensinando os colonos, seus compatriotas, na fazenda.

Pesquisando os escassos documentos sobre o tema, foi encontrada a de Lei nº 237, de 4 de Setembro de 1893, que determina criação da escola mista na Estação de Santa Bárbara, instituindo o Grupo Escolar de Villa Americana, com a mesma denominação. Todavia, o documento não faz menção a sua exata localização. Em pesquisas no Acervo do Museu do Salto Grande, foram encontradas fotos do corpo docente do Grupo Escolar Heitor Penteado do ano de 1925, no qual estão identificados os renomados professores desse ano e instituição.

Algumas das mais antigas escolas fazem homenagem a esses primeiros professores que compuseram o corpo docente americanense. Dentre estes nomes, destacam-se Silvino José de Oliveira, Delmira de Oliveira Lopes, Otávio Soares de Arruda, Alcindo Soares do Nascimento, entre outros. Junto destes está a figura de um único homem negro: o professor João Solidário Pedroso.

Primeiro professor primário negro da história de Villa Americana do qual se tem notícias, seu nome foi eternizado junto à escola que se localiza na Rua Santo Onofre nº 275, no Bairro São Manoel, instalada na data de 18 de fevereiro de 1957. Filho legítimo de João Leoncio de Carvalho e Maria Thomazia, Pedroso nasceu em Campinas no dia 29 de março de 1887. Foi casado com Dona Benedicta de Andrade Solidário, e teve com ela cinco filhos: Maria Hebe Almeida Prado, nascida em 1912; Eurydes Solidário Pedroso, nascida em 1918, em Villa Americana; Laerte Solidário Pedroso, nascido em 1928, na mesma vila; José Perseu Solidário Pedroso, nascido em 1933; e Benedicto Moacyr, do qual não foi encontrado nenhuma informação.

Pedroso residiu por um tempo em Villa Americana, no entanto, não foi possível saber qual o momento de sua chegada ou quando se mudou. Alguns documentos apontam que isso teria ocorrido em torno do ano de 1931, pois foi o período que e1e lecionou no Grupo Escolar Coronel Domingues Ferreira, na cidade de Monte Mor, o que nos dá uma ideia da data de sua mudança da vila. Pedroso, além de ter sido professor primário, também escreveu vários artigos de história para o jornal “O Município”, que foi o jornal de circulação na vila até o ano de 1949.

Pedroso era muito conhecido em Villa Americana e bem conceituado, frequentava os mais altos círculos sociais e, na ocasião do casamento de sua filha primogênita, Dona Maria Hebe, com Francisco Almeida Prado, um dos padrinhos seria o Dr. João de Castro Gonçalves, que foi médico e prefeito da cidade de 1941 à 1947. Outra figura importante com a qual ele travou conhecimento foi o médico Cícero Jones, o que comprova que seu círculo social era muito bem frequentado.

João Solidário Pedroso foi um homem negro letrado nas ruas da pequenina Villa Americana, povoamento este que, dentro do contexto histórico, fez parte da política escravocrata brasileira. Vale ressaltar que o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão e Campinas, a última cidade, estando Americana inserida nas racionalidades dessa localidade.

É curioso pensar como Pedroso teve acesso à educação, vindo a se formar professor, já que seu nascimento se deu um ano antes da abolição da escravatura, compondo a já grande população negra livre do final do século XIX. Algumas fontes sugerem que sua mãe Maria Thomazia era filha ilegítima de Thomaz Maria Fernandez de Vallença com Joaquina Candida de Azanha, que deu à luz solteira, no ano de 1848. Segundo processo de perfilhamento encontrado no Centro de Memória da Unicamp, Maria foi reconhecida como herdeira de Vallença no ano de 1866 e tal herança pode ter sido responsável por sua educação. No ano de 1888, com a abolição, viera a tão sonhada liberdade deste bravo povo trazido contra a vontade para trabalhar em solo brasileiro em condições sub-humanas, mas nenhum projeto visando a inclusão social destes recém-libertos foi feito, deixando uma massa de excluídos à deriva.

João Solidário Pedroso faleceu por enfermidade na cidade de Campinas, em 25 de julho de 1937. Nesta ocasião, sua família residia na Rua Carlos de Campos, nº 159, na Villa Industrial do bairro da cidade de Campinas. Faleceu de repente, sem deixar testamento, mas deixando sua marca na história do município de Americana.

*Elizabete Carla Guedes é membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado à pesquisa histórica sobre Americana

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.