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‘Eu, traidor, um absurdo!’

Por Carlos Roberto Bertollo

27 de novembro de 2020, às 08h34

No final de 1913, a bordo do vapor Blucher, Santos Dumont partiu da França para o Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro, onde foi recepcionado com majestosa festa. Em nossa terra tupiniquim, ele visitou algumas cidades. Às vésperas do início da Primeira Guerra Mundial, o grande cientista retornou a Paris. Em agosto de 1914, o Império Alemão declarou guerra à França. Sabendo que aviões e dirigíveis começaram a ser utilizados como arma de guerra, este triste episódio o levou a uma profunda decepção, agravando o seu estado de saúde.

Ele considerava culpado por seu invento estar sendo utilizado como arma de destruição. Optando por ficar longe do cenário da guerra, ele resolveu passar uma temporada na sua residência em Bénerville, uma comuna francesa na região da Normandia. Como sua residência foi construída em um ponto estratégico e querendo ajudar o país de seus ancestrais, ele a ofereceu ao Ministério da Guerra Francês para ser usada como ponto de observação.

Apaixonado por astronomia, o grande cientista usava o seu telescópio para observar o firmamento e o mar. Alguns moradores do lugarejo excessivamente desconfiados, achavam que o grande cientista estava fazendo sinais para as forças imperiais alemãs. E neste cenário, ele foi denunciado como espião. Antes da sua moradia ser utilizada pelos militares, ela foi revirada pelas autoridades policiais em busca de provas.

Após verificarem o enorme equívoco que havia acontecido, o governo francês pediu desculpas ao grande cientista. Mas ele não perdoou a suspeita de ter sido um traidor. Em virtude dos acontecimentos, Santos Dumont ficou muito possesso, sentiu-se ultrajado. Foi ao seu escritório e queimou todos os seus desenhos, projetos e anotações. Em 1915, decidiu então arrumar as malas e voltar para o Brasil.

Carlos Roberto Bertollo é estudioso da lenda de Ícaro e criador de réplicas de aeronaves

Colaboração

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