Estúdio 52
‘Nomadland’ foi o grande vencedor de 2021, mas será o mais lembrado?
Nem sempre o ganhador do Oscar de Melhor Filme é aquele que fica cravado na história do cinema; veja exemplos
Por Rodrigo Alonso
26 de abril de 2021, às 15h21
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O inevitável aconteceu: “Nomadland” foi o grande destaque do Oscar 2021. Ganhou como Melhor Filme e teve o maior número de estatuetas, com três. Mas, daqui a alguns anos, qual será o longa mais lembrado entre os indicados para a premiação realizada neste domingo (25)? Confira os ganhadores aqui.
Nem sempre o vencedor é aquele que fica cravado nas listas de “filmes obrigatórios”. E, antes que você especule as motivações de um texto com esta abordagem, já vou deixar claro: dos concorrentes deste ano, “Nomadland” está longe de ser o meu preferido.
Mas também reforço a validade da expressão “gosto é gosto, cada um tem o seu”. Nem sempre o filme que agrada fulano também vai agradar sicrano. E até por isso não tiro o merecimento de “Nomadland”.
No entanto, não podemos tratar o Oscar como um veredito do que é melhor ou pior. A própria história diz isso. Líder de indicações neste ano, “Mank” carrega um exemplo perfeito.
Para quem não sabe, o longa aborda os bastidores da elaboração do roteiro de “Cidadão Kane (1941)”, considerado um dos filmes mais importantes de todos os tempos. E, se não fosse por toda essa importância, muito provavelmente “Mank” nem existiria. Afinal, qual apelo ele teria?
Apesar de ser sempre lembrado, “Cidadão Kane” venceu o Oscar de 1942 em apenas uma categoria: Melhor Roteiro Original. Em Melhor Filme, perdeu para “Como Era Verde o Meu Vale”, que, com todo respeito, tem um lugar muito menos relevante na história do cinema.
Vale ressaltar que “Cidadão Kane” não foi o único filme de impacto histórico a perder o Oscar para obras que, de certa forma, caíram no esquecimento. Só para ter mais exemplos, também cito “Laranja Mecânica (1971)” e “Touro Indomável (1980)”.
E não duvido que, daqui a algum tempo, a premiação de 2021 também cause estranheza aos futuros cinéfilos.
“Nomadland” retrata a realidade de nômades nos Estados Unidos com extrema sensibilidade e vai se firmar como referência no assunto, mas o que “Meu Pai” e o “O Som do Silêncio” fizeram vai além.
Os dois pegam temas que já tinham sido abordados inúmeras vezes no cinema, mas oferecem uma perspectiva totalmente diferente.
Em “Meu Pai”, o espectador entra na cabeça de um idoso com Alzheimer, a ponto de enxergar da mesma forma que ele enxerga. Já em “O Som do Silêncio”, é possível ouvir o que um surdo (não) ouve e, dessa maneira, absorver as sensações dele.
Ambos proporcionam um ótimo exercício de empatia, de uma forma que nunca vi acontecer em filmes sobre Alzheimer e deficiência. E, por tratarem de temas que não têm prazo de validade, os dois têm boas chances de se consolidarem na eternidade.
Futuramente, então, as pessoas podem se perguntar: “por que nenhum deles ganhou o Oscar de Melhor Filme?”. No meu caso, essa dúvida já existe.
Rodrigo Alonso
Repórter do LIBERAL, está no grupo desde 2017. É “fifeiro” desde criança e, se puder, passa horas falando de filme e série, então nada melhor do que unir o útil ao agradável.
Quer saber sobre aquela série que está bombando na internet? Sim, temos. Ou aquele jogo que a loja do seu console vai disponibilizar de graça? Ok. Curte o trivial e precisa dos lançamentos do cinema? Sem problema, é só chegar.