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Cotidiano & Existência

Desejos

Leia o artigo da professora Gisela Breno desta semana

Por Gisele Breno

21 de julho de 2020, às 08h09 • Última atualização em 21 de julho de 2020, às 09h06

Minha mãe tinha um tio que, diante das dificuldades e tristezas, costumava dizer que gostaria de ser como as galinhas, pois sem consciência dos acontecimentos do dia a dia, passam a vida ciscando, cavando buracos rasos no chão, onde abrem suas asas e rolam, brincam neles.

Ele morreu sem saber que a Ciência revelou características surpreendentes dessas aves. Além de possuírem consciência, as galinhas são solidárias com a dor das suas companheiras, se comunicam com seus filhotes ainda no ovo, demonstram autocontrole e conseguem se preocupar com o futuro.

Ando passando meus dias de luto e pandemia frequentemente desencantada com as atitudes de tantos seres humanos nomeados cientificamente de Homo sapiens, do latim homem sábio.

A exemplo desse tio querido, nesses momentos de duras provações, de desigualdades abissais entre as pessoas, de egoísmos exacerbados, fico imaginando como o mundo seria melhor se comandados fôssemos por essas singelas aves.

De posse de olhos muito mais sensíveis do que os dos humanos jamais se tornariam, apáticas, frias, indiferentes ao número absurdo de mortes que tomou conta desse País.

Solidárias, recolheriam sob suas asas os incontáveis desfavorecidos que parecem invisíveis aos olhos dos perderam a compaixão; andariam de cristas erguidas mas esse comportamento jamais se traduziria na arrogância do desembargador com os guardas; na prepotência da carioca junto ao fiscal; no desdém com as minorias, no descaso com os fracassados.

Por serem gregárias, fraternas, nos acolheriam como filhotes oferecendo-nos conforto, consolo, esperança.

Reanimados com o calor que emana dos seus corações, ainda seríamos presenteados com seus doces cacarejos ecoando em nossos ouvidos: calma meus filhos, tudo isso vai passar.

Amparados, motivados, liderados por essas mães capazes de enfrentar quaisquer inimigos para proteger e preservar os seus, minimizaríamos os medos, angústias, incertezas desses tempos e, em debandada, retornaríamos ao nosso dia a dia confiantes e solidários para reconstruirmos tudo que a pandemia tem retirado de nós.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.