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Cotidiano & Existência

Crucificados

Numa sociedade fortemente marcada pelo egoísmo, Jesus continua pregado na cruz: a fé sem obras é morta

Por Gisela Breno

30 de março de 2021, às 11h05

Engana-se quem crê que a crucificação do filho de Deus ocorreu somente há mais de dois mil anos.

Numa sociedade fortemente marcada pelo egoísmo, pela busca do ter, pelo não comprometimento com os destinos dos marginalizados, Jesus continua pregado na cruz.

Em cada pessoa que sofre abuso, de qualquer natureza, Suas chagas sangram.

Em todo corpo preto muito mais cravejado por balas do que o branco, habita o Seu corpo.

No rosto dos humilhados pelos poderosos, no rosto dos abandonados pelos poderes públicos, no rosto dos indígenas, dos LGBTQIA+ desfigurados por preconceitos, no rosto dos que morrem em filas de hospitais, no rosto dos famintos, dos desempregados, dos atirados à margem da sociedade, encontra-se Seu rosto sagrado.

É fácil colocar a Palavra de Deus na boca, nas redes sociais, nos carros, nos outdoors; difícil é compreender que a fé sem obras é morta.

É fácil entoar cânticos de louvor ao Senhor; árduo é o esforço diário para impedir que não saia de nós nem mesmo um sussurro capaz de magoar, ferir, ofender os irmãos de caminhada nessa breve passagem que realizamos pelo Universo.

É fácil colocar uma cruz na porta da casa, no pescoço, nos ambientes de trabalho; edificante é enxergar que há pessoas com cruzes muito, mas muito mais pesadas que as nossas e concretamente sermos Cireneus em suas jornadas.

Se em nosso viver não houver espaços e atitudes de tolerância, empatia, compaixão, solidariedade, Jesus continuará sangrando na cruz.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.