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Histórias de Americana

Crimes no Bairro da Estação (parte 1)

Por Elizabete Carla Guedes

13 de abril de 2020, às 09h01 • Última atualização em 28 de abril de 2020, às 09h03

O bairro da Estação de Santa Bárbara, construído nas terras anteriormente pertencentes à Fazenda Machadinho, foi palco de um crime ocorrido no dia 22 de julho de 1888. Na descrição do processo encontrado no Centro Cultural Martha Watts, em Piracicaba, aparecem dois personagens históricos denominados Gregório e Maria, ambos com o sobrenome “de Tal”, expressão utilizada na época para diferenciar escravizados libertos.  

O crime ocorreu em uma casinha pertencente a Maria de Tal, próxima à ponte do Ribeirão Quilombo. Gregório de Tal, após ter desferido um tiro de espingarda na direção de Maria, com a qual era amasiado, e ferindo-a gravemente na região do ouvido, foge rumo ao ribeirão, onde foi capturado pouco depois por alguns moradores da região, que foram convidados pelo próprio subdelegado a participar da prisão. Na época, a futura Villa Americana não era constituída de contingente policial.

Gregório de Tal foi preso e julgado em Piracicaba, cidade à qual pertencia a pequena vila. Maria ficou gravemente ferida: segundo o corpo de delito apresentado, o ferimento de dez centímetros do lado esquerdo de seu rosto atingiu horizontalmente sua a mandíbula superior, estragando todo o canal do ouvido, parte do conduto auditivo temporão e superficialmente a parietal. Maria era empregada de Basílio Bueno Rangel nesta ocasião.

Nos depoimentos colhidos pelo subdelegado do Bairro da Estação, Gregório diz que Maria atirou em si mesma por acidente quando brincava com a arma. No depoimento de Maria, ela confirma os fatos relatados por Gregório, porém, as testemunhas arroladas no processo derrubam a teoria de acidente, mudando o caso para uma tentativa de assassinato.

Durante o julgamento, o réu Gregório, já acompanhado de um advogado de defesa, muda seu depoimento, dizendo que, no dia do fato ocorrido, se encontrou com um casal de amigos que se casara em Campinas, indo à venda da Estação para comemorar com eles. Lá, bebera a ponto de ficar embriagado. Após isto, voltou para a casa de Maria, onde a viu brincando com a espingarda pertencente a ele, e, para evitar que um acidente acontecesse, já que ele sabia que a espingarda estava carregada, tomou-lhe das mãos tão bruscamente que a mesma disparou, ferindo-a. Disse que não teve intenção de matá-la e que até mesmo já havia pensado em se casar com ela, não tendo feito isto para não ofender sua ex-mulher. Após dois dias de julgamento, foi dada sentença, absolvendo o réu da tentativa de assassinato.

*Elizabete Carla Guedes é membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado à pesquisa histórica sobre Americana

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.