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Cotidiano & Existência

Heranças

A bela herança cósmica pouco adiantará se a desumanidade reinar entre nós; leia o artigo da professora Gisela Breno

Por Gisela Breno

24 de agosto de 2021, às 14h33 • Última atualização em 24 de agosto de 2021, às 14h34

Fomos partejados e tecidos no coração do Universo, por isso temos parentesco com a terra, a água, o ar, os minerais, as plantas, as bactérias, os fungos e os outros animais.

Entretanto por possuir um cérebro extremamente complexo e uma consciência refinada, o ser humano é o único ser vivo que sabe que sabe; que pode transformar o meio em que vive; o único ser do planeta Terra que tem o privilégio de entender que a Mãe Terra cede matéria para a organização dos corpos de todos os seus filhos e que um dia essa lhe será devolvida pela ação dos seus decompositores e reutilizada como parte da matéria de seus demais filhos.

Somos, portanto filhos e testemunhas da Eternidade.

Mas essa bela herança cósmica pouco adiantará se a desumanidade reinar entre nós.

Não é preciso ter a pele preta para saber que ela abriga o corpo muito mais cravejado e morto por balas, inclusive pelas “perdidas”.

Não é preciso receber um salário mínimo para constatar que é impossível uma família viver dignamente com míseros R$ 1.100 por mês.

Não é preciso ser transexual para sobreviver com a atrocidade de que a população trans no Brasil tem expectativa de vida de menos de 35 anos, equiparável a da Idade Média, quando não havia penicilina nem tampouco saneamento básico.

Não é preciso ser mulher para saber que diferentes dimensões da violência, desde o assédio moral e sexual até o feminicídio, marcam a experiência de suas vidas em todas as idades no Brasil.

Não é preciso ser uma pessoa com deficiência para enfrentar dia após dia o capacitismo enraizado na sociedade.

Não é preciso ser indígena para sofrer diuturnamente com ameaças, assassinatos, expropriações de terras, queimadas, omissão e descaso do poder público, invasões e demais violências praticadas, de modo sistemático ao longo de séculos.

É preciso, necessário e urgente rasparmos as camadas de intolerâncias, de preconceitos, de incompreensões, de desamor acumulados em nossa existência para deixar renascer em cada um de nós a compaixão e a responsabilidade pelas vidas dos nossos irmãos igualmente gestados no Útero do Universo.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.