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Pelas Páginas da Literatura

Conheça ‘Drive My Car’, de Haruki Murakami, que inspirou filme homônimo

Blog Pelas Páginas da Literatura comenta conto que inspirou longa indicado ao Oscar, que estreou esta semana nos cinemas

Por Marina Zanaki

18 de março de 2022, às 11h26 • Última atualização em 18 de março de 2022, às 11h45

Estreou oficialmente no Brasil esta semana o filme “Drive my car”, do cineasta japonês Ryûsuke Hamaguchi. O longa foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Adaptado. Ele se inspira no conto de mesmo nome do escritor japonês Haruki Murakami. Não assisti ao filme, mas li o conto e vim comentar minha expectativa com a estreia.

Filme foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Adaptado – Foto:

Gosto demais do escritor japonês, principalmente de seus romances mais longos. Murakami ocupa um lugar especial na minha prateleira e no meu coração, e de tempos em tempos sinto a necessidade de lê-lo. Avalio que suas obras têm sempre duas faces – a história que está sendo contada e o interior dos personagens. É precisamente esse último aspecto que me encanta, muito mais do que nos acontecimentos mirabolantes que ele inventa.

Quando soube do lançamento de “Drive my car”, fiquei animada por sua ótima performance nas premiações. Além do Oscar, ele venceu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2021, e teve indicações ao BAFTA Film Awards (Direção, Filme em Língua não Inglesa e Roteiro Adaptado). Me interessei por conhecer esse conto de um dos meus escritores contemporâneos preferidos.

O conto

A história é bastante simples, e acompanha Kafuku, um ator viúvo, e Misaki, sua motorista particular. Durante viagens de carro, nasce uma relação especial e incomum. Os dois personagens são atormentados pelo passado: ele, por conta de segredos que sua esposa guardou até a morte; ela, pela relação conflituosa com a mãe e o abandono do pai. Compartilhar um silêncio confortável amplia a intimidade dos dois, que aos poucos vão conversando sobre aspectos importante da vida.

O conto é bastante singelo e delicado, mas confesso que me decepcionou um pouco. Já de início, o personagem Kafuku faz uma longa e desnecessária introdução sobre mulheres ao volante, que me incomodou por ser bem preconceituoso. Ele diferencia homens e mulheres na direção não pelas capacidades, mas por algo intrínseco ao gênero.

Kafuku chega a definir as mulheres como “tensas”, sem nunca se perguntar sobre a construção social em torno dessa habilidade que historicamente é considerada masculina. Quando ele finalmente vence o preconceito e admite que Misaki é uma ótima motorista, ela surge como uma mulher excepcional por isso.

Por outro lado, a relação que Murakami constrói entre os dois é muito bonita, refletindo sobre os papéis que assumimos na vida e sobre atitudes nem sempre simples de serem explicadas. Esse é o ponto principal do texto – e deve ter sido a maior inspiração para o filme.

O filme

O longa-metragem de três horas de duração parte do argumento do conto, mas faz um mergulho na peça “Tio Vânia”, do russo Anton Tchekhov. O texto clássico serve de fio condutor para abordar os temas principais do filme, como amor, traição, confiança e fidelidade.

Apesar de não ter gostado muito do conto (ele definitivamente está entre os textos menos interessantes que li de Murakami), estou bastante interessada no filme. Não apenas pelas indicações, mas também porque ele parece criar uma obra sensível e tocante, que fala sobre a vida através da arte. E, talvez, eu perceba ali algo que deixei escapar na leitura do texto.

“Quando comecei a trabalhar na adaptação cinematográfica deste conto repleto de histórias tão fascinantes, meu objetivo era deixar as perguntas e respostas se desdobrarem como uma cadeia de ‘vozes’ contendo a verdade, conforme retratado na história, para chegar à resposta final de Kafuku. Também foi sobre a criação de uma experiência para o público que lhes permite continuamente, intuitivamente sentir a verdade através da ficção”, declarou o diretor Hamaguchi.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.