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Cotidiano & Existência

Chuvas

Por Gisela Breno

08 de dezembro de 2020, às 13h21 • Última atualização em 08 de dezembro de 2020, às 13h22

A chuva mansa, suave me encanta desde criança.

Assim que ela chegava, me debruçava na vidraça do quarto da minha mãe que tinha vista pra rua, e de olhos extasiados, contemplava os pingos d’água que, caindo no asfalto, primeiramente se transformavam em pequeninos abacaxis e posteriormente, para meu espanto e deleite, em incontáveis coroinhas de reis.

Em seguida, com o aval de minha mãe que nunca tinha ouvido falar em leptospirose, fazia lindos barquinhos de jornal para soltá-los na enxurrada vermelha, que escorria abundantemente pelas calçadas, bem como para tentar resgatá-los como troféus, pisoteando nessas águas barrentas até que conseguisse tamanha proeza.

Feliz e encharcada da cabeça aos pés, sempre descalços, voltava pra casa e como antídoto para não pegar resfriado tomava um banho quente, seguido de uma saborosa sopa de feijão com arroz, denominada por minhas avós de minestra.

Ainda me encanto com as coroinhas e abacaxizinhos quando a chuva vem, mas diferentemente dos tempos de infância, ao invés de enxurradas para me divertir, tenho, como bilhões de irmãos desse castigado Planeta, remado bravamente nas águas turbulentas dessa pandemia que não dá trégua. E o que pior, sabendo que a chuva é um fenômeno climático que resulta da precipitação de gotas líquidas da água das nuvens sobre a superfície da Terra, temo que diante das tragédias pessoais e coletivas que esse ano trouxe, o volume das lágrimas contidas em nossos corações dilacerados por tantas perdas, explodindo possam provocar inundações jamais vistas.

Mas porque creio que as águas das chuvas e as lágrimas que brotam de nosso ser também são uma forma de comunicação entre o céu e a terra , rogo a Deus que nos abrace suavemente e infunda em nossas vidas gotas de fé, coragem, esperança para que não naufraguemos nessa travessia.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.