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Pelas Páginas da Literatura

Cerejeiras, aquecimento global e seis livros japoneses

Após as férias, o blog Pelas Páginas da Literatura retorna com indicações clássicas e contemporâneas da Terra do Sol Nascente

Por Marina Zanaki

12 de abril de 2021, às 07h59 • Última atualização em 12 de abril de 2021, às 08h01

As cerejeiras, tradicionais árvores do Japão, floresceram mais cedo este ano. Geralmente seu ápice ocorre em abril, mas em 2021 elas atingiram toda sua beleza em 22 de março na capital Tóquio. As notícias sobre o assunto apontam que esse foi o florescer mais precoce das cerejeiras registrado nos últimos mil anos, e os cientistas acreditam que o fenômeno está ligado ao aquecimento global.

Essas flores são simbólicas na cultura do Japão, representando o ciclo da vida e a passagem do tempo. A literatura japonesa é repleta de passagens em que personagens contemplam as cerejeiras, ato sempre repleto de significados e metáforas.

Assim como possui seus símbolos, a literatura japonesa também é dotada de um ritmo único. Os livros escritos na Terra do Sol Nascente transportam o leitor para um universo peculiar e especial, permeado por conflitos entre a tradição e a modernidade.

Acredito que são essas particularidades que fazem com que uma cultura preserve o costume milenar de contemplar cerejeiras, permitindo identificar a floração precoce provocada por um fenômeno tão contemporâneo quanto o aquecimento global. É um detalhe tão pequeno que talvez em uma sociedade menos atenta poderia passar despercebido.

Retornando de um breve período de férias, indico aqui no blog seis livros escritos na Terra do Sol Nascente. Os três primeiros são clássicos e os três últimos foram escritos por contemporâneos.

E depois, Natsume Soseki

O livro acompanha a história de um homem na casa dos 30 anos que tem dinheiro e posição social. Seus privilégios permitem que não trabalhe e ele não tem nenhum interesse em desenvolver qualquer atividade útil à sociedade. Sua comodidade é abalada quando o pai exige que se case, dando início a questionamentos existenciais.

As irmãs Makioka, Junichiro Tanizaki

Nessa lista, é meu livro preferido. Esse clássico acompanha a saga familiar de quatro irmãs, retratando com maestria os conflitos entre os valores da sociedade japonesa e as novas ideias que adentraram na cultura com a abertura para o Ocidente.

Confissões de uma Máscara, Yukio Mishima

O livro acompanha um jovem descobrindo seus desejos. Ao entender que é gay, percebe que não se encaixa naquela sociedade em que está inserido e passa a se enxergar como uma máscara de si mesmo.

Minha querida Sputinik, Haruki Murakami

Nesse livro, somos apresentados a um triângulo amoroso. O professor K é apaixonado por sua amiga Sumire, que sonha em ser escritora. A jovem, por sua vez, ama a patroa Miu. Essa história de amor é mesclada com toques de fantasia e reflexões sobre a vida, ao singular estilo de Murakami.

Kitchen, Banana Yoshimoto

Nesse pequeno livro somos apresentados a uma jovem que acabou de perder a avó e é acolhida na casa de amigos. A história traz a cozinha como um símbolo da convivência familiar e da formação de laços. O grande tema desse livro é o luto, tratado de forma sensível e comovente, sem nunca soar piegas.

Querida Konbini, Sayaka Murata

Uma mulher de 36 anos trabalha há quase duas décadas em uma Konbini, tradicional loja de conveniência japonesa, um emprego sem perspectiva de crescimento. Na vida pessoal, ela nunca teve um relacionamento e nem a pretensão de se casar. Essa personagem fora dos padrões sociais é apresentada neste livro contado em primeira pessoa. A história nos faz pensar sobre normalidade e regras sociais por uma perspectiva muito peculiar.

Marina Zanaki

Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.